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domingo, julho 08, 2007

Da Folha: Censura?

... Segundo o diretor do departamento de Justiça e Classificação, José Eduardo Romão, "inventaram um novo significado para censura, mais conveniente aos interesses que esses "críticos" representam"."
Será que, agora, devemos encarar como censura toda ação legítima do Estado que possa causar prejuízos à audiência do negócio, ou melhor, à lucratividade do programa?", pergunta, em texto enviado à Folha.
"As pessoas que trabalham na TV facilmente enxergarão a classificação indicativa tão somente como uma garantia fundamental contra a baixaria quando conseguirem olhar para as câmeras e ver, do outro lado, as necessidades e os direitos dos telespectadores que são crianças e adolescentes."...
São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007, Ilustrada

terça-feira, julho 03, 2007

Festival CineEsquemaNovo 2007.

Numa noite pra lá de fria topei o desafio pra lá de doido de assistir uma maratona de filmes da meia noite até as 4 da manhã- uma pequena amostra dos muitos curtas, longas e filmes dos convidados exibidos do dia 25 de Junho ao dia 1º de Julho em Porto Alegre- e depois desafiar a névoa forte que era rompida pelos românticos lampiões amarelos da Andradas.

Aliás, idéia de acabar tão tarde devia ser adaptada: com alguns intervalinhos de 10 minutos e um bar servindo café, se tornaria uma agradável convivência até as 6h, quando a vida volta à cidade.

O Festival ocorre desde 2003, promovido pela Prefeitura, e enfrentou desde o início críticas as mais diversas sobre a seleção, a real experimentalidade dos trabalhos selecionados e outras.

O site do Festival se propõe a dar vazão a "Todos os suportes imagináveis, do 35mm e suas variações até uma produção feita em um telefone celular". Pelo menos no pacote que assisti, nada realmente me surpreendeu pela novidade, apesar de nada desagradar.

Preocupou-me um pouco o fato dessa produção artística parecer não falar muito do Brasil-Cão, pelo menos não nos temas tão mega-abrangentes como os problemas sociais e o trabalho, mas arte é arte e é melhor que um monte de roteiros socialistas pra inglês ver. Reflexo, talvez, do abismo que nos separa dos problemas "reais", vivendo dentro da "bolha de consumo" e do isolamento do artista contemporâneo.

(Vale lembrar que esta seleção foi para filmes de pessoas de alguma forma ligadas a organização do festival e que, portanto, não participaram em mostra competitiva).

De qualquer forma se o objetivo é "A SURPRESA, a EXPERIMENTAÇÃO, a CRIATIVIDADE e a INOVAÇÃO", como anuncia o site, pelo menos na mostra da madrugada, fico esperando mais loucura. Não que toda inovação deva ser obrigatoriamente "uma mosca na parede", claro. Acompanhe a minha premiação de 1 a 5.

**** SKETCHES, de Fabiano de Souza, RS, tem uma mistura de Bekett com Entre Quatro Paredes e conquista pela forma como o roteiro é montado, bem interessante. Um homem se encontra em uma cela branca, ou será o inferno? Vamos descobrindo seu passado. Fernando Kike Barbosa age com espantosa naturalidade nesse meio que não é o seu de origem -o teatro- e Nelson Diniz vai se soltando no docorrer da trama, para ganhar emoção no final. Sandra Dani - sempre impressionante em papéis de mulheres fortes e rancorosas- e Liane Venturella completam o elenco, com maestria.
***** A DOMICÍLIO, de Nelson Diniz, RS, conquistou meu primeiro lugar pela simplicidade e humor do roteiro. Bandidos confundem a casa de um moderno budista com a de um inimigo a ser apagado. Fico sempre chocado com a variedade e energia de Heinz Limaverde e contente em ver Álvaro RosaCosta, muito bom no dramático Boca de Ouro, como um ótimo comediante.

*** PEQUENOS TORMENTOS DA VIDA, de Gustavo Spolidoro, RS, mostra o cotidiano de uma sala de aula de classe média em Porto Alegre. É interessante, mas me pareceu faltar algo, pois um ensino onde todas as crianças são loiras e de olhos azuis parece estranhamente com a Suiça.

**** PORTO ALEGRE DE QUINTANA, de Fabiano de Souza e Gilson Vargas é um dos especiais feitos pela RBS para os 100 anos de nascimento do poeta. è sempre difícil conciliar o literário com o comercial -como falar para um público tão amplo como o da Tv- o que aqui foi conseguido com imagens poéticas.
De alguma forma, entretanto, fico em dúvida sobre a possibilidade e até a necessidade de se tentar "pôr em imagens" poemas; claro que a voz está na origem da idéia de poesia, mas acho um tanto complicado a rapidez da imagem poder acompanhar a reflexão do verso. Seria talvez mais adequado um documentário histórico, entrevistas ou quem sabe um mergulho alucinado em inovações, como em "A Pedra do Reino" (correndo deliciosamente perigo de não servir ao propósito do meio), mas o trabalho é interessante e delicado.

*** SANTA DE CASA, de Allan Sieber, RJ, é um desenho animado realmente carioca, baseado em conto de Aldir Blanc, divertido, mas um pouco longo talvez. Crônica despretenciosa. O cansaço da madrugada também começa a bater...

** GINÁSTICA, de Mariana Xavier, RS, é uma montagem com cenas de academia, música eletrônica e tal. tem um ritmo frenético, que acorda o espectador. Divertido.
** *COMO TATUA PELE, de Manga Campion, RS, mostra um ritual das ilhas alguma coisa-supomos- quando os jovens recebem tatuagens com aqueles "garfinhos", ao som de um locutor sádico que fala suavemente sobre a beleza. Justamente aqui se vê um pouco da badalada "inovação", pois as imagens da família volta ao mundo ficam recontadas com essa roupagem debochada.Bem criativo, mas bastante ocidental, já que cada louco tem seu motivo.

**** ASAS, SOMBRAS, BICOS E UNHAS DE SONHOS, de Beto brant, SP, é o mais inovador de todos, com imagens do quadro “Asas, Sombras, Bicos e Unhas de Sonho”, enquanto Kuta, pintor angolano exilado no Brasil, narra o poema homônimo de Pablo Neruda. Belíssimo.
***** O HORLA, de Igor Natusch e Marcelo Oliveira, RS, merece destaque pela idéia original -um conto de Guy de Maupassant- e pelo ator Rafael Régoli que vence sozinho os diversos estados do personagem oprimido pelo misterioso ser. Muito bom.

**** QUINTANA INVENTA O MUNDO (...com muito sono tentamos ouvir mais poesia), de Camila Gonzatto e Frederico Pinto, RS, é rico em fotografia, roteiro e montagem, seguindo a idéia de televisionar os poemas de Quintana. Dentro de um Hotel se passam várias cenas que remetem ao mundo de Lili, a menina do poeta. Criativo, dentro daquilo que já dise sobre o poema em imagens. Coragem, a madrugada já vai acabar...

*** É PRA PRESENTE, Camila Gonzatto, RS, traz uma delicada história de amigos em uma livraria. Bem narrado, merecem destaque a direção de arte, que recria o ambiente intelectual da cidade e a atuação de Sissi Venturin , como uma suave livreira. Só não entendo o que tem a ver com o esquema novo, já que não me pareceu de modo algum uma "experimentação".

*** OLHANDO O CÃO, de Eduardo Wannamacher, RS, é um making off do filme Cão sem Dono. Com depoimentos e reflexões ajuda a desvendar o universo melancólico, pós-industrial e intelectual- pessimista do filme, onde o protagonista parece perdido em um mundo em ruínas, e entre livros. Mostra o processo de criação do longa, baseado em improvisações e trocas com os atores. Morfeu, saia desse corpo!

* DIÁRIO DO VIRALATA, de Júlio Andrade, "só no" celular, é o mesmo processo visto pelos olhos do ator principal. Interessante mostrar o convívio e o processo do elenco, mas um tanto longo e "doméstico" para ser exibido.

** CLIMAX, de Gurcius Gewdner, SP, animação feita para o grupo goiano de rock de garagem MECHANICS, é curto e criativo. Basicamente paint brush animado, mas bem rápido. Acabou! Estamos em dia com a arte da capital e as três pessoas da sala saem na noite gélida, em busca de um taxi. Acabou! Estamos em dia com a arte da capital e as três pessoas da sala saem na noite gélida, em busca de um taxi. A espera também de alguma solução entre o experimentalismo metafísico vão e a linguagem agradável, mas que não desafia tanto.