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quinta-feira, março 28, 2013

Ausência

Hoje eu tenho que fazer uma coisa
Hoje ou nunca
Recriar a tradição
Ouvir os ecos de uma mata, seu orvalho e neblina
Lembrar do ontem e não deixar que se repita
Chamar por Ishtar e passar pelo fogo e pela água
Para abrir meus olhos, purificar-me
E, na minha busca, e na minha fome
Colher como pássaro os hálitos jovens da manhã
para viver as origens
e colorir o tempo do inverno

E tudo depende
de ser o ato presente
Hoje
Propor o amanhã inesperado
ouvir, em silêncio, o tempo do sol poente
e oferecer um rito
ao ciclo infinito
Lembrar das linhas do sangue
da alma-animal comum, a rede
Crer que Eostre chegará num carro de aurora
e Dionísio informulável e seus frutos
E reconhecer em cada pedra de rua e cada criança
Um deus.

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O trabalho Ausência de Afonso Jr Lima foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

segunda-feira, março 25, 2013


O simulacro
Um monge escreve um texto baseado no Cântico dos Cânticos. O cavaleiro e a rainha foram levados ao adultério por esse livro de amor. Lendo sua história, uma aristocrata - que fora dada em casamento a um homem detestável por causa de um acordo de paz, tendo se casado por procuração trazida pelo seu jovem irmão, Paulo, o Belo - acaba sendo assassinada pelo marido furioso. A história está ao lado da cama de Maria quando seu marido a asfixia, tendo saído da prisão no feriado, e o bebê de um ano deita-se com a mãe até a polícia chegar.
Licença Creative Commons
O trabalho O simulacro de Afonso Junior Lima foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://afonsojunior.blogspot.com.br/.

segunda-feira, março 11, 2013

Rumor



Quero mais elefantes
pelas ruas
E aranhas claras em folhas verdes
Olhando com mil olhos carros transitórios
Evoco sonhos de floresta
Invoco os gritos do deus novo!
A terra que tudo sustenta e respira
Novas palavras para proteger a
vida
O mundo é novo hoje e, portanto, a lei
Venha o deus Água num abraço de círculo amigo
pela cidade
desfazendo as chamas do concreto
Em diálogo de paz - e os peixes que têm o logos do tempo
Não vamos pressupor saber tudo de um mundo
indomável
Eu evoco os gatos, os dias de preguiça, o corpo vivo
Uma escuridão de silêncios com dama da noite
Chamemos a Vida, quando reina Repetição
Tudo programado, tudo para poucos
Quando o ser acinzenta (o eu se faz em contato)
tudo é sopro seco de fogo
a tristeza cobre com sua poeira fria a treva
o Pensar como espada e corte
(Ele, Irmão do Amor, filho do Ovo da Noite)
homens, mulheres com pele ferida
unhas sujas e famintos
o fracasso de uma civilização
Evoco o tempo criador
Que tudo relativiza, apaga, tempo de todos
Os anjos bárbaros com fontes de água nova
Brotem do Rumor os dedos divinos pela cidade!
Anel de flores por todos os caminhos, pétalas no lago
As ninfas sujas de lama circulam e observam
E as nuvens escuras lembram do primeiro dia
O mundo dos mortos caminha junto, salva a vida
Adormeçam os furiosos jovens, isolados
Os frutos cubram paredes de pedra
com línguas de todos os povos e pele-pensar
Um frêmito de renovação, daquilo que muda sempre
Porque todo o ser é já em si poder e potência
O parar, o amanhecer, o olhar vivo
Igualdade da terra que os acolhe
O Pensar ancestral pré-individual
que pune o insolente
Verte, borbulha, limpa de eus infinitos
Não há maior saber que o fluir na vida
Quero mais elefantes
pelas ruas