Rent, Chris Columbus, 133 min., 2006
(Antes de mais nada vale lembrar que, mesmo na baeado ópera do século XIX, "La Bohème", de Puccini, há quem diga ainda na Internet: O elenco é formado basicamente por homossexuais, drag queens, dependentes químicos e sem-tetos.” Nazi!)
Quando o filme começa dá aquela dor no peito: será que vou agüentar ver as pessoas cantando ao colocar lixo na rua, ao dar comida ao cachorro e cruzando o sinal?
De imediato a gente se pergunta: vou agüentar a esse otimismo que canta “conte o ano em amor” logo de cara?
Mas aí a história vai entrando. Nada fácil colocar um musical, feito para o palco, que portanto pressupõe o artificioso, na tele muito mais naturalista do cinema. Entretanto os personagens estão bens construídos, são variados e interessantes, e lá pelos 30 minutos você já está cantando: “Tango Maureen” (a mulher louca da trama).
O mais importante de tudo: a historia não fantasia um mundo de plástico e luzes, mostra a Nova York da virada para os noventa, com o fim do estado de bem-estar, as pessoas nas ruas, o clima de era da catástrofe e a “exploração” do empresariado corrupto.
Percebemos porque também é tão difícil fazer política nos EUA: as pessoas consomem! O mercado engole o sujeito, que se satisfaz em comprar uma TV nova, mesmo que sinta que,no global, está perdendo seus direitos e daqui há vinte anos não haverá mais água.
Mas o grupo segue vivendo, e a cena em que dançam “La vie Bohémien” é sensacional. Maureen mostra a bunda para os engravatados corporativos: queremos ter tempo e dinheiro para transgredir. E os chatos neoliberais que gritam “façam por vocês mesmos” deveriam lembrar que os magnatas ganham isenção de imposto, e eles não.
Principalmente o filme não se enquadra em chavões. É preciso ter fé na vida, mas ali se diz “morrendo na América, na virada do milênio”. Não se tira conclusões fáceis, mas fica um desejo de viver. Nosso os EUA (underground) e o Brasil tem algo em comum: a transformação do caos em arte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário