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A sociedade sem reflexão

Goethe pensou numa literatura universal e escreveu seu "Divã ocidento-oriental". Uma coletânea do escritor persa Hafez, criada no século XIV, lhe trouxe essa ideia. Evitar o sentimento mecânico. 

Esse é o papel dos pensadores, colaborar com a necessidade de expansão do ser humano, enquanto os sistemas de dominação querem reprimir a percepção - visando exploração, expropriação e expulsão.

 A corporificação torna pouco criativo o sujeito portanto, pouco resistente. O não entender acaba criando a ab-reação violenta contra o estranho. Lembro de uma psicóloga dizendo nas redes que eu era "sonhador"; o mesmo que uma importante jornalista disse a um candidato progressita numa entrevista; a realidade seria apenas o valor naturalizado da elite branca. 

Isso chega ao ponto em que se quer policiais na política - sem pensar que a liberdade absoluta (o poder de matar e ameaçar) cria o crime. 

Como podemos ter tantas pessoas cumprindo tantas metas de produção - econômicas/acadêmicas - com tão pouca flexibilidade, tolerância e sabedoria? Nosso sistema produziu o tecnogênio - não só valorizou os saberes capazes de aumentar o capital imediatamente, como ocultou os saberes de convivência e do bem comum. 

E disse às Ciências Humanas que o mais importante é seu autor, seu artigo, sua tradução de um europeu. A mais perigosa ambição e reiteração é a intelectual. 

 A Academia é fundamental como centro de trocas e organização de disciplinas de estudo, justamente criando diálogos e quebrando o senso comum. O foco é o que permite a ampliação de um tema. Nenhuma vantagem se tem da ignorância, que apenas mantém preconceitos conservadores. 

Mas no modelo atual, a Academia também supervaloriza seu própio saber - a doença do quem sabe mais pode servir a uma guerra de status; sem uma reflexão constante, acaba-se reforçando a ideia de que aqueles que não detém esse saber oficializado seriam "inferiores", porque os mecanismos acadêmicos criam a sensação contínua de que "eu sei" e a legitimação de que "esse saber é válido", podendo enevoar o saber do outro. Você sabe, portanto você é importante. Como você é importante, você sabe...

Um especialista com completa alienação fora de sua área vale mais que uma pessoa capaz de compreender mil problemas do mundo ou criar relações com mil saberes simplesmente porque seu grupo fechado valoriza isso. Não estamos num momento em que o todo precisa ser entendido de forma urgente? 

A hiper-especialização também impossibilita a renovação das áreas - pois questões de outros lugares do saber trazem novas perspectivas. 

Também criamos com isso o endeuzamento "cortem-as-cabeças". 
Eu posso agredir porque importam meus problemas, e o sistema ao meu redor reforça meus valores (o livro europeu da moda é o centro do mundo, e quem não o leu está perdido). Erramos muito em não perceber outros problemas fora das nossas pesquisas. 

Apesar de núcleos que relacionam sociedade, psique e hábito coletivo, os psi brasileiros, em geral, acabam levados pela onda do conservadorismo e individualismo. Um exemplo contrário é como, no Uruguai, o estudante de Psicologia aprende sobre História da nação. É uma tentativa de fugir ao "positivismo darwinista". 

Claro que ajudou a deformação neoliberal da universidade - com corrida por pontos, cobrança por publicações e orçamento cada vez menor. Observo o mal tomar conta de acadêmicos iniciantes. Usando seu poder para dizer ao outro o quanto não é bom o suficiente - não é válido. 

Incorporando um sistema de dominação e aplicando aos outros. Não precisamos usar a Academia para criar uma nova elite produtora de desigualdades. Mas, se a universidade é tão atacada, é porque é uma barreira contra a dominação completa; a troca de experiências é fundamental para a inovação e a formação do ser coletivo. 

Precisamos da Academia para sermos mais - mais generosos, esforçados e inteligentes. E pensarmos em conjunto, lembando que o capitalismo é sem limites, e nós temos limites. 

Nosso sistema tornou invisível o que não gera lucro. Isso significa por exemplo, que inclusive a gestão pública obedece a ideia de ampliação contínua do lucro - o que levou à descoordenação do sistema de saúde privatizado na Itália contra o vírus mortal. A mídia no Brasil funciona também como uma ocultadora de problemas de gestão, e não como crítica das falhas. 

No Brasil, recentemente percebemos que o foco em saber técnico abstrato e o pouco saber sobre a sociedade a História levou à mecanização da personalidade que ajudou num linchamento político de massa e à negação da realidade, ao ódio à mudança, à colaboração na destruição do sistema político.

Como formamos essa massa educada e confortável capaz de votar tão mal? São questões complexas, mas vemos alguns pontos. A informação foi reduzida e manipulada em um nível extremo. Formamos castas e bolhas que nunca são questionadas em seus valores e crenças. 

A publicidade do modo de vida "eu" e a competição foram incentivadas - ao mesmo tempo focando em "crescer" e na "culpa individual" do que fracassa. Quando minha vida está em risco, não me preocupo com a vida do outro. 

Quando meu "lugar social" depende do meu corpo e do meu consumo, eu sou a beleza externa e a educação quantitativa que compra, o problema do outro perde importância. Assim surge uma parte da classe média que não quer mudar nada e acha incômodo e perigoso o movimento contra a desigualdade, não se importando se a Justiça criminaliza um inocente. 

E prejudica a economia queimando a Amazônia. Aos trabalhadores foi permitido ficar no conservadorismo mais brutal, para evitar contatos e rebeldias. Aos jovens é mostrado o quanto precisam de uma academia para o corpo perfeito e para serem técnicos perfeitos.

E tudo isso começa com a necessidade de expansão sendo abafada pela mecanização do pensar. 

Afonso Jr.

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