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quarta-feira, junho 29, 2022

The son of H.P.

At a luxury hotel in Harrogate, I was greeted by Sir Arthur and Mary Clarissa. She apologized for having discussed a sensitive topic with the old writer at a party at her house, but she had come to imagine that spiritualism would help me. By chance, Sir Arthur had received a letter in which a lady told a very similar story.

When I was Chief of Police in Brussels, I met the young Miller who was passing through Paris with her mother towards the East. We met again by chance during the War when I arrived on the island as a refugee. She was working as a nurse at the time.

She invited me to her house. In the conversation, between cookies and tea, I told her about a boy I had adopted in Belgium, an orphan.

- I always said, Mary Clarissa, that the reason for the crime is what is sought today; that I am an expert, actually, in the psychology of criminal affairs. Well, it's exactly the "why" that is missing here.

The boy, very happy and always willing to hear beautiful stories, had mysteriously disappeared during a ship trip we took on the Adriatic. There was a storm, and the waves seemed about to capsize the vessel; in the confusion, I left the boy in the cabin while helping calm the passengers; when I came back he was gone. We searched the whole ship, the captain and I, after things calmed down, we notified the police when we disembarked, I had hoped for months that they would find him.

Afterward, she and I didn't speak to each other for a while. One day, I got a call from her. She had lost her mother, her husband abandoned her, she told me we should meet. A.C.D. would be present.

They told me that Sir Arthur received from a friend in Dublin a letter in which she told that her neighbor Mrs. M., being ill, had decided to tell her the truth about her adopted son. The lady died, and the lady asked the writer if she should finally tell the secret as the other woman had requested.

Many years ago, on a journey across the Adriatic, in the midst of a storm, a six-year-old boy, of Belgian origin, took refuge in his cabin. He told her that a man had kidnapped him and was holding him captive. She ended up talking to the captain, and they both decided to hide the child. The next day, the boy began to say that it was all a joke and that he wanted his father. The captain thought it was a kind of "love for the criminal syndrome", or even fear of being discovered. A doctor present on the ship was consulted. At the same time, they were suspicious of the egg-headed Belgian policeman who was circling the ship very nervously. The doctor decided to medicate the child, and he was practically unconscious until they left the ship, which happened as quickly as possible.

Only after they arrived in Ireland, on her property next to the city, did she realize that the story about an adoptive father could be real. But, by then, her husband had already fond of the child, and she was too ashamed to reveal it to everyone. Finally, the boy was adapting himself, and his past become like a distant adventure. 

Mary Clarissa, at that moment, was surprised by a musician from the hotel orchestra, who asked her:

- Aren't you that mystery writer?

We knew our peace was over. We parted ways, and I decided to go to Dublin to meet my son.

Afonso Jr. Ferreira de Lima 

O filho de H.P.

Num hotel de luxo em Harrogate, fui recebido por Sir Arthur e Mary Clarissa. Ela se desculpava por ter comentado sobre um tema delicado com o velho escritor em uma festa em sua casa, mas chegara a imaginar que o espiritismo me ajudaria. Por acaso, Sir Arthur havia recebido uma carta em que uma senhora contava uma história muito parecida.

Quando eu era Chefe de Polícia em Bruxelas conheci a jovem Miller que passava por Paris com sua mãe em direção ao Oriente. Nós nos encontramos novamente por acaso durante da Guerra quando cheguei à ilha como refugiado. Ela trabalhava como enfermeira na época. 

Ela me convidou a sua casa. Na conversa, entre bolinhos e chá, contei-lhe de um menino que adotara na Bélgica, órfão. 

- Eu sempre disse, Mary Clarissa, que o porquê do crime é o que hoje se busca; que sou especialista, na verdade, na psicologia dos assuntos criminais. Pois bem, é justamente o porquê que aqui me falta. 

O menino, muito alegre e sempre disposto a ouvir lindas histórias, desaparecera misteriosamente durante uma viagem de navio que fizemos pelo Adriático. Houve uma tempestade, as ondas pareciam prestes a virar a embarcação; na confusão, eu deixei o menino na cabine enquanto ajudava a acalmar os passageiros; quando voltei já não estava. Revistamos todo o navio, o capitão e eu, depois que as coisas se acalmaram, avisamos a polícia ao desembarcar, por meses tive esperança de que o encontrariam. 

Depois, eu e ela ficamos sem nos falar algum tempo. Um dia, recebi sua ligação. Ela perdera sua mãe, seu marido a abandonava, ela me disse que devíamos nos encontrar. A. C. D. estaria presente. 

Eles me contaram que Sir Arthur recebeu de uma amiga sua em Dublin uma carta em que ela contava que sua vizinha, sra. M., estando adoentada, resolvera contar-lhe a verdade sobre seu filho adotivo. A senhora veio a falecer, e a dama perguntava ao escritor se deveria por fim contar o segredo como a outra solicitara. 

Há muitos anos, em viagem pelo Adriático, em meio a uma tempestade, um menino de seis anos, de origem belga, se refugiou em sua cabine. Ele lhe contou que um homem o havia sequestrado e o mantinha cativo. Ela acabou falando com o capitão, e ambos decidiram esconder a criança. No dia seguinte, o menino começou a dizer que era tudo uma brincadeira, e que queria seu pai. O capitão achou tratar-se de uma espécie de "síndrome de amor ao criminoso", ou mesmo de medo de ser descoberto. Um médico presente no navio foi consultado. Ao mesmo tempo, desconfiaram do policial belga com cabeça de ovo que circulava pelo navio muito nervoso. Ele resolveu medicar a criança, e ele passou praticamente desacordado até saírem do navio, o que se deu o mais rápido possível. 

Somente depois de chegados na Irlanda, na sua propriedade ao lado da cidade, ela foi percebendo que a história do pai adotivo poderia ser real. Mas, nesse momento, seu marido já se afeiçoara à criança, e ficou com muita vergonha de revelar isso a todos. Por fim o menino foi se adaptando, e seu passado ficou como uma aventura distante. 

Mary Clarissa, nesse momento, foi surpreendida por um músico da orquestra do hotel, que lhe perguntou:

- A senhora não é aquela escritora de mistério?

Sabíamos que nossa paz havia acabado. Nos separamos, e eu decidi ir a Dublin conhecer meu filho.  

Afonso Jr. Lima


domingo, junho 26, 2022

A Segunda Eva

Era assim a história:

Eva olhava a si mesma na água, estava cansada, havia sido expulsa do Paraíso depois de Adão ter reclamado com o Altíssimo.

- Se nos unirmos, podemos vingar-nos de nossos opressores - dizia a Outra. 

- Você está querendo usar-me porque não pode mais entrar no Jardim, disse Eva.

- Sim, é verdade. Eu sou um demônio, mas você pode ser transformada num animal e passar despercebida. Eu fui lançada à Terra dos Demônios porque me neguei a ficar por debaixo dele. Eu queria poder controlar um pouco nosso desejo. Ao invés disso, ganhei uma terra onde nada cresce e onde o vento é sempre impetuoso e seco. E você também caminha sem rumo, por entre pedras e insetos, você já é um dos animais, que não têm os anjos a ensinar-lhes.

- Fui expulsa porque o Primeiro sentiu asco ao ver-me sair de sua carne. 

- Eu amo a beleza disforme. Nesse novo caminho, a mudança é a lei. Tens que contar a tua irmã nossa história, e como ela já é de fato uma escrava. Somente no sono Adão aceita que ela viva. 

- Mas o que acontecerá comigo depois que eu lhes disser as palavras que me ensinarás? Serei lançada ao fogo ou me esmagará algum anjo?

- Eu te protegerei - ainda que não possa entrar aí, estarei nos portões do Paraíso e lutarei com Uriel, o Anjo que os protege, para dar-te sua Espada de Fogo. Nós nos uniremos em carne, e tu gerarás uma raça de homens inquietos, amantes dos sons e das cores, aos quais ensinaremos símbolos, e que jamais deixarão os reinos adormecerem. Depois, me tornarei uma ave e seguirei os filhos de Adão e da Nova Eva para que conheçam o amor com nossos filhos.

E assim a segunda Eva viu sua pele tornar-se fria.

Afonso Jr. Lima 


Live: As memórias dos sobreviventes de Hiroshima


 

sábado, junho 18, 2022

Problemas familiares - oficina com Juan Peralta

M - Creo que voy a quitar el dispositivo que te permite respirar. No querías escucharlo.

H – Yo no quería nada extraño en mi cuerpo.

M - Puedo decidir sobre tu vida. Ya no puedes discutir nada.

H - Puedo pensar. Sé que tienes ese derecho, pero quiero vivir.

M - Nunca estuve limitado por nada. No quiero ser oprimido.

H - Quiero algo más que ciclos.

M - Al principio yo estaba. Fue el origen de la especie. Mi agua caliente creó torres de azufre y hierro. Les paso y creo moléculas orgánicas.

H - Usé piedra pulida. El agua era fundamental, paramos, criamos gallinas y vacas. Necesitamos defender nuestro pueblo. El mar es feroz. El viento puede ayudarnos.

M - Analizando las circunstancias tomas una decisión.

H - Está bien, mátame. Hacer algo.

M - Tu acción es la guerra.

H - Si me rebelé contra ti fue porque quería ser diferente.

M - Hablemos de eso. Es una tragedia, es decir, la imitación de una acción, varias acciones con un vínculo causal. ¿Y cuál es la trama, qué pasa?

H - lo sé. Esta trama resultó de la composición de acciones más pequeñas unidas entre sí por necesidad. La acción define, no el carácter.

M - Dijeron que tenía cara de enojo. Tus héroes están manchados de sangre. Mataron a mis hijos, perforaron los ojos de los monstruos. Me dieron un nombre, dijeron que perseguía a los que intentaban volver a casa para vengarme.

H - Corté la madera. Cuento monedas. Nuestras ciudades tienen chimeneas. Casas climatizadas. Nuestra ciudad contamina el agua. Hace más calor. El agua está más cerca, los tsunamis más peligrosos.

M - Avanzo sobre la tierra. Penetro el suelo. Las grietas crecen. Caen las paredes. La casa se derrumba. El barrio está vacío. Caen los edificios. La tierra tiembla. Los animales corren.

H - Encontrado muerto dentro de una habitación. Soy el criminal, la víctima y el detective.

M - Creo que voy a quitar el dispositivo que te permite respirar. No querías escucharlo.

Afonso Jr. Lima

Live: Positivismo social - O legado de Saint-Simon

 


Açucenas

Joana, 16 anos, está em seu quarto lendo um livro de fantasia. De repente, na cama, percebe um jovem de roupa branca. 

- Quem é você? 

- Oi. Sou um anjo. Você vai ser a Mãe de Deus.

- Como entrou aqui?

- Olha, eu sou um anjo. Quando eu disser as palavras mágicas você será a Mãe...

- Eu sou menor de idade. Deus não pode...

- Pode, acredite. Já foi pior. Aceite essas flores. Açucenas. 

- Aço... quê?

- Elas têm a forma de trompeta. É que quando eu disser as palavras...

- Escuta, não tem feminismo nesse Céu de Deus? Como vou acabar meu ensino médio? Não sei se vocês sabem, mas aqui tem um série de saberes que são essenciais para a vida adulta, como metonímias e cossenos, sem os quais não te deixam ter acesso a mais conhecimento, conhecimento superior. 

- Também vou colocar uma vela aqui, pronto. Quando eu falar apago a vela e... Que lindo! Vai viralizar. Ah, sim. Maria conseguiu fazer parte do Conselho dos Quatro há alguns anos. 

- Mas Maria é virgem, né? 

- Olha, nesse século, a humanidade vai invadir florestas e liberar vírus, vai ter mais insetos porque vai ter mais calor, tudo vai ficar bem infernal. O departamento de marketing achou que era necessária uma esperança. 

- E eu tenho que carregar a arma secreta contra os vírus por nove meses? Isso se chama assédio sexual divino. 

- Tecnicamente não, porque o Espírito Santo é tipo, espiritual. A santa pomba é estóica. Ah, mais uma coisa. O departamento de marketing acha que você tem de usar azul.

- Quanto a isso, ok. O problema é se vão enfiar meu filho numa estaca.

- Tecnicamente não é seu filho. Só por questão de contrato. Mas não, ele será ecologista. 

- E pode garantir que não vão enfiar meu filho numa estaca?

- O que tem acontecido com ecologistas é mais ligado ao fogo. 

- Que horror. Estou chocada. Você não pode voltar ano que vem? Quer dizer, não quero que Três Pessoas acabem no tribunal por crime e tal...

O anjo se comunica com a base.

- Ok. Você tem bom coração. Os Santíssimos vão esperar. A paz esteja com você. 

O Anjo foi diminuindo e saiu por um raio de luz que entrava pela janela. 

*

Afonso Jr. 


sexta-feira, junho 17, 2022

quinta-feira, junho 09, 2022

sexta-feira, junho 03, 2022

Elas também - e daí? - impressões sobre um julgamento

Vai demorar ainda muito tempo para avaliarmos a importância do movimento Me Too. Se pode imaginar que 30% da humanidade tenha sofrido abuso sexual - e talvez mais no caso das mulheres. ('That's enough': France confronts decades of neglect of incest cases) Não há dúvida de que um sistema todo foi construído ao redor da descrença na voz feminina - a começar pelo policial que não acredita na denúncia, chegando ao juiz que humilha a vítima. 

Mas devemos pensar: sempre que você tem poder - um poder moral também - pode surgir abuso, pode ser usado como forma de generalizar a culpa para grupos ou excluir pessoas para enfatizar superioridade e domínio. Existe o bullying pseudo-progressista (woke bully). Se o medo de afirmar a verdade sufocar a reflexão, quem ganha? Afirmar que se trata de "punir uma mulher que nomeou suas experiências" pode mesmo ajudar a evitar abusos? 

A advogada segue dizendo que ela foi "demonizada" - esquecendo que a acusação não é prova (o que pega muito mal nos Estados Unidos, e talvez seja para criar uma "onda" que leve a reduzir a indenização). Seu grande erro pode ter sido "editar" demais sua cliente, de modo que, quando apareceram falhas, toda sua credibilidade ruiu. Excesso de ficção. Ainda que o melhor que se possa fazer é criar uma teoria coerente com as informações disponíveis, o tribunal deve ser o limite último contra o relativismo - até mesmo o relativismo teórico em moda no pós-estruturalismo. E é por isso que tem sido atacado. 

É chocante o uso da tese de que o resultado "faz recuar o relógio" - é como se o sentido de grupo (de facção) devesse prevalecer mesmo sobre as evidências. Justamente o avanço das políticas de proteção é que permite que haja casos isolados de abuso. Os conservadores aproveitam para dizer que "é o fim do Me Too" ou que "só a palavra da mulher, agora, já é prova". Não podemos viver entre dois fanatismos: a mitologia perversa da extrema-direita ou a agressividade política de algumas pessoas muito certas de estarem defendendo as minorias. 

Tudo aponta para que alguém tentou aproveitar-se de um movimento legítimo para destruir a carreira de um ex-marido e ganhar dinheiro com isso. A impressão geral do momento (doxa coletiva) criou uma atmosfera para que pequenas evidências descontextualizadas gerassem uma decisão errada. É simplesmente impressionante que, de fato, um juiz veterano tenha acreditado nisso e companhias como Disney e WarnerMedia também. 

Todo mundo sabia que Deep tinha problemas com droga e álcool. Era a parcela de verdade que toda narrativa mentirosa precisa - agora será usada como trampolim para narrativas conspiratórias de como "os homens são vítimas das mulheres". 

Assistindo como Heard se dirigia aos jurados, ao invés da pessoa que lhe perguntava, ficava claro que havia algo muito errado. Era muito angustiante ver que uma pessoa havia sido muito provavelmente difamada e perdido trabalhos em função de uma performance. O fato de que ela não convenceu nem o juri, nem os milhões de telespectadores não é irrelevante. 

A questão é que, em relações tóxicas como essa, é muito difícil estabelecer os limites, o que pode ou não ser enquadrado em cada conceito. É preciso muita tenacidade e análise cirúrgica para desmentir cada pequena mentira que cria um cenário irreal. Além disso, nenhum tribunal pode ter tempo ilimitado, e nunca as evidências coletadas podem ser "tudo que existe ou existiu" em torno do caso. 

Os advogados do acusado sempre tentarão mostrar a suposta vítima como o real agressor, mas ainda assim o juiz inglês parece ter se equivocado aceitando apenas provas diretas que respondessem à pergunta "se Depp tinha cometido a violência ou não". (2 junho 2022 - BBC) Neste julgamento, os fatos externos (para além da fala da suposa vítima) que circundam o "evento" não apareceram (por exemplo, nunca apareceu uma suposta mulher de quem Deep teria tido ciúme e pelo que teria iniciado uma briga). 
 
Não sei em que ajuda pensarmos de modo tão superficial como para dizer que: "Muitas vítimas de violência doméstica que assistiram a este julgamento provavelmente concluirão que, se compartilharem suas experiências, serão desacreditadas, envergonhadas e condenadas ao ostracismo." (2 junho 2022 -The New Yorker). Havia um triunfalismo de facção em algumas declarações de que você estava sendo "manipulado" contra a acusada. Teve quem dissesse que haviam descartado "fotos de ferimentos" e seria difamatório dizer que ela "mentiu sobre o abuso". 

Antes de mais nada, o sistema seria tão ingênuo à ponto de descartar uma prova que mostra que a vítima foi violentada sexualmente? Além disso, podemos partir da ideia de que o crime é certo, a prova em contrário deve ser o objetivo? Alguém é estuprado com uma garrafa e não busca um médico? Pode ser, mas aceitar a palavra sem evidência como prova pode ser ainda mais catastrófico ao sistema democrático. Os jurados podem ter acessado à internet, mas isso os levaria a condenar uma pessoa inocente? 

Tara Roberts, administradora da ilha privada de Deep, narrou como ele foi atacado e afirmou: "Amber lhe dizia que ele era um ator fracassado... que ele iria morrer como um velho sozinho". (28 de mai - 2022 - G1) Sean Bett, o guarda costas, mostrou fotos da violência doméstica contra o ator, que havia documentado justamente por prever acusações da atriz, etc, etc. 

Em nada favorece o movimento em defesa das verdadeiras vítimas a onda de "culpado até provar inocência". Porque o que a extrema-direita faz é, na verdade, rebaixar o pensamento, destruir a sutileza, de modo que se pode inclusive generalizar a ponto de defender isso ou aquilo à custa da verdade particular. As teorias de conspiração apagam os dados concretos. O que me parece melhor - no caso de comentários que não estejam acompanhando minuciosamente o julgamento - é simplesmente dizer: não sei; não posso dar opinião definitiva baseado apenas na minha impressão, porque ela representa minha pré-concepção. 

O que isso afeta as mulheres vítimas de violência em geral? Bastante, se seguirmos a ideia medíocre de que existem mocinhos e bandidos, ou de que o sistema de Justiça não se baseia em evidências, mas em opiniões. O fato de que algumas mulheres mentem não deveria impedir que se condene quem pratica violência. Cada caso segue sendo único, e a história de opressão e violência contra as mulheres segue sendo um eixo formador da nossa sociedade. De qualquer modo, poder revisar nossas certezas e convicções ainda é o melhor caminho. 

Amanhã podem surgir novas evidências, ou podemos descobrir que o julgamento foi uma farsa (como ocorreu recentemente no Brasil). Mas, por hora, é bom refletirmos que não podemos transformar esse caso no caso "se os homens/ as mulheres" isso e aquilo. Cada denúncia deve ser tomada a sério e investigada com cuidado. Os progressistas precisam estar atentos ao uso dos direitos humanos para promoção pessoal e calúnia, de modo a evitar que a extrema-direita se aproprie disso. A democracia depende de que não seja apenas minha opinião fanática, a qual defendo até a morte. Isso foi o mundo das guerras de religião. É preciso voltar à melhor democracia que podemos criar. 

*

Afonso Jr

https://ponte.org/artigo-no-julgamento-de-heard-e-depp-quem-perdeu-foram-todas-as-vitimas-de-violencia-domestica/

https://www.newyorker.com/culture/cultural-comment/the-depp-heard-verdict-is-chilling

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61677816

https://www.theguardian.com/world/2021/feb/10/france-begins-to-confront-decades-of-neglect-of-incest-cases

https://www.youtube.com/watch?v=cRQWGbk1pqM

https://www.youtube.com/watch?v=fAqSdHBtxBE 

https://www.youtube.com/watch?v=Y83aKLBtEA0 

quinta-feira, junho 02, 2022

Exercício - Oficina Mariano Tenconi Blanco

El hombre se arrodilla.


Me entrego ciego a la suerte

Signior

Que de cerca soy perseguido!

Es muy poco entendimiento

Que solo los letraos es que pueden

Por demonios ser guiados

Que somos unos matuchos

Nuestras hembras y varones 

Cuando me alconzó cimarrón

La china allí su hechiso estaba

Me ha clavao del pico

El dulce diablo estrupicio

Llamándolo como gato de noche

El padre del artificio

Un duelo sale de entre nosotros

Que la china estaba prometida

Dos potros y la luna de sangre

Signior

Tan de cerca soy perseguido!

Lo maté el compañero

Y al trote salió marchando

Ese pobre desdichado

El por demonios guiado

En nuestra casa encontró

La china ahorcada

Signior, castigáme, juez nuestro general

Me ha clavao del pico el amor

Y los campos cubiirán mi cueipo

 *

Afonso Jr