Era assim a história:
Eva olhava a si mesma na água, estava cansada, havia sido expulsa do Paraíso depois de Adão ter reclamado com o Altíssimo.
- Se nos unirmos, podemos vingar-nos de nossos opressores - dizia a Outra.
- Você está querendo usar-me porque não pode mais entrar no Jardim, disse Eva.
- Sim, é verdade. Eu sou um demônio, mas você pode ser transformada num animal e passar despercebida. Eu fui lançada à Terra dos Demônios porque me neguei a ficar por debaixo dele. Eu queria poder controlar um pouco nosso desejo. Ao invés disso, ganhei uma terra onde nada cresce e onde o vento é sempre impetuoso e seco. E você também caminha sem rumo, por entre pedras e insetos, você já é um dos animais, que não têm os anjos a ensinar-lhes.
- Fui expulsa porque o Primeiro sentiu asco ao ver-me sair de sua carne.
- Eu amo a beleza disforme. Nesse novo caminho, a mudança é a lei. Tens que contar a tua irmã nossa história, e como ela já é de fato uma escrava. Somente no sono Adão aceita que ela viva.
- Mas o que acontecerá comigo depois que eu lhes disser as palavras que me ensinarás? Serei lançada ao fogo ou me esmagará algum anjo?
- Eu te protegerei - ainda que não possa entrar aí, estarei nos portões do Paraíso e lutarei com Uriel, o Anjo que os protege, para dar-te sua Espada de Fogo. Nós nos uniremos em carne, e tu gerarás uma raça de homens inquietos, amantes dos sons e das cores, aos quais ensinaremos símbolos, e que jamais deixarão os reinos adormecerem. Depois, me tornarei uma ave e seguirei os filhos de Adão e da Nova Eva para que conheçam o amor com nossos filhos.
E assim a segunda Eva viu sua pele tornar-se fria.
Afonso Jr. Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário