Páginas

Ajude a manter esse blog

quinta-feira, março 26, 2020

Réquiem

I will cry now because there is no time
The illusions of vanity fell one by one
There are so many dead, as we didn't know
Our economy of selfishness, the lack of solidarity
The thought of struggle, the fictional self
All monsters by a death system
These flowers for the nameless dead
Looking at what was invisible


*

Chorarei agora porque não há tempo
As ilusões da vaidade caíram uma a uma
São tantos os mortos, como não conhecíamos
Nossa economia do egoísmo, a falta de solidariedade
O pensamento de luta, o eu fictício
Todos os monstros de um sistema de morte
Essas flores pelos mortos sem nome
Olhar o que era invisível


Afonso Jr

sábado, março 21, 2020

O ciclo

Um marinheiro veneziano deixou rabiscado no navio seu poema:

O rei louco olha o horizonte
A tempestade, uma sombra
Chama os músicos e grita com os criados

Miro o fluxo das montanhas ao mar
Céus revoltos, cidade deserta
Caiu a bela muralha de Tiro
Os imperadores e servos como ilhéus

O rei louco chama seus filhos
A sombra, os governadores gritam
Chama o circo, bebe vinho novo

O poder absoluto do rei do mundo
A sombra da cidade brilhante
Cai Babilônia com vento de fogo
Não ajudem ao deus furioso reis
Só a onda observa as ruínas
Não resta nem coroa nem castelo

Abismo que engole Atlântida
Os impérios sob novos impérios
A Natureza com sua dança eterna
O sol nasce no horizonte







quarta-feira, março 18, 2020

terça-feira, março 10, 2020

En la isla (ESP)

Sí, puedo decírtelo una vez más. Pero no. Nunca me creen. Tu familia solía hacer faros, ¿no? Por eso está aquí. Quizás entiende más que otros hombres.
Pero eso tengo que preguntarte. ¿Crees en lo que escribes? ¿Crees que hay algo desconocido? Quizás creas en los mitos más que en otros.

¿Has oído hablar de Davy Jone? Me lo dijo cuando llegué. "Esta es la casa de Davy Jones". Los marineros dicen esto, el lugar de los que mueren en el agua. Hay una fábula divertida. El barco se está hundiendo, y el primer teniente advierte al capitán. Pero era un tipo muy leído y todo lo que dijo fue: "La vida es un gran naufragio". Luego estaba en el depósito de pólvora y el barco explotó. Estas son las cosas que dicen dos hombres sucios en una isla oscura y azotada por el viento.
Tal vez fui allí por eso. Mi vocación era naufragar. Mucha pelea yo ya había hecho en sociedad. No ayudó mi madre decir que beber es el refugio del pobre y su perdición.

También estás condenado, por lo que me dicen. Me pregunto si los miembros de su familia no lo insultarán por escribir historias y no construir puentes, carreteras y ferrocarriles. La mía me insultó.
¿Quieres decir que soy tu personaje ahora? Significa que darás forma a mi mente, escucharás mis palabras, destilarás mis pasiones. Pero también sé más sobre ti que cualquier hombre. También me escapé de la sofocante ciudad, deseé lo vasto y lo desconocido. Te diré que había algo sobre esa tormenta. No, no creas que sabes lo que es.

Ya has viajado a pie, sin duda, para ver las montañas, durmiendo en posadas, tabernas y monasterios. Sabes que el viento, y aún más lluvia, al aire libre, pueden volver loco a un hombre.

El mar me cura. Me gustan tus viajes. También escribí mis viajes. También comí poco, hasta que tuve dinero para sacarme los dientes. También me enfermé y fui atendido por una mujer. Pero nunca tanta sangre. Nunca me han asfixiado.

Tu influencia. El la escucho. Eso fue lo que lo mató. Me di cuenta. En un momento, nuestras almas estaban frías, perdimos la esperanza. Teníamos el mismo nombre. Todos sabían que peleábamos violentamente.

Esta tormenta nos tomó por sorpresa. Las olas arrastraron víveres, botes, hasta que la casa se llenó de agua. ¿Es ahí que llegó, cuando no teníamos visión? Mi capitán se quedó en la torre como para proteger la luz. Finalmente, también quería entrar, parecía el único lugar seguro.

¿Que queria? ¿Quería que fuera acusado de asesinato? ¿Quería que permaneciera el resto de mi vida atado a una pared, sin luz, rodeado de ratas? ¿Quería matar lo? Me quedé solo al lado de tu cadáver. ¿Pero quién lo creería? Conociste a los nativos. Quizás me creas cuando digo que no sabemos nada de la naturaleza. Intentamos robar el fuego, pero es Proteus. Ese cadáver me miró con los ojos abiertos. Si lo tirara al mar, me acusarían de asesinato. Comenzó a descomponerse. Lo colgué afuera. El viento hizo agitar su brazo. Pero mantuve la luz encendida hasta que llegaron mis colegas, no sé cuánto tiempo después. Me miraron como si no me reconocieran.

Naufragamos desde el primer día. Hundiéndonos porque nos odiamos, porque nos amamos, porque éramos humanidad. Dicen que estoy loco. Sí, el señor, está condenado. Tampoco volveré a salir de aquí. Esta es la casa de Davy Jones.

Afonso Junior Ferreira de Lima
https://afonsojunior.blogspot.com/2020/03/na-ilha.html

domingo, março 08, 2020

Um pássaro sobre o frio

Um pássaro sobre o frio

Um dia frio. Um homem (62 anos).
Acorda no meio da noite. Vai ao banheiro.
Ele liga a luz. Pega uma carta.
Seus amigos estão na sala.
Um jovem cruza a sala – Até mais, diz e bate à porta.
Cada um dos amigos traz um envelope nas 
mãos. (...)


Afonso Jr. Ferreira de Lima

Na ilha

Sim, posso contar mais uma vez. Mas, não. Nunca acreditam em mim. Sua família fazia faróis, não é verdade? Por isso está aqui. Talvez compreenda mais que os outros homens.
Mas isso eu tenho que lhe perguntar. O senhor acredita no que escreve? O senhor acha que existe alguma coisa desconhecida? Talvez o senhor acredite mais em mitos que os outros.

Já ouviu falar em Davy Jone? Ele me disse, quando cheguei. "Aqui é a casa de Davy Jones". Os marinheiros dizem isso, o lugar dos que morrem na água. Há uma fábula engraçada. O navio está naufragando, e o primeiro-tenente avisa o capitão. Mas ele era um sujeito muito lido e tudo que disse foi: "A vida é um grande naufrágio". Depois foi no depósito de pólvora e explodiu o navio. São essas coisas que dois homens sujos falam numa ilha escura varrida pelo vento.
Talvez eu tenha ido para lá por isso. Minha vocação era naufragar. Muita briga já havia feito em sociedade. Não adiantou minha mãe dizer que a bebida é o refúgio do homem pobre e sua perdição.

O senhor também está condenado, pelo que me dizem. Fico pensando se seus familiares não o insultam por escrever histórias e não construir pontes, estradas e ferrovias. Os meus me insultavam.
Quer dizer que eu sou seu personagem agora? Quer dizer que o senhor vai moldar minha mente, ouvir minhas palavras, destilar minhas paixões. Mas eu também sei mais do senhor do que qualquer homem. Eu também fugi da cidade sufocante, eu desejei o vasto e o desconhecido. Vou lhe dizer, havia alguma coisa naquela tempestade. Não, não ache que sabe o que é.
O senhor já viajou a pé, com certeza, para ver as montanhas, dormindo em hospedarias, estalagens e mosteiros. O senhor sabe que o vento, e ainda mais a chuva, no ar livre, podem enlouquecer um homem.
O mar me cura. Gosto de suas viagens. Eu também escrevia minhas viagens. Eu também comia pouco, até ter dinheiro para arrancar meus dentes. Eu também fiquei doente e fui cuidado por uma mulher. Mas nunca tanto sangue. Nunca fui sufocado.
Sua influência. Ele a ouviu. Foi isso que o matou. Eu percebi. Em um momento, estavam frias nossas almas, perdemos a esperança. Tínhamos o mesmo nome. Todos sabiam que brigávamos violentamente.
Essa tempestade nos pegou desprevenidos. As ondas foram arrastando mantimentos, barcos, até encher de água a própria casa. Será que foi aí que chegou, quando não tínhamos visão? Meu capitão ficou na torre como que protegendo a luz. Por fim, eu também quis entrar ali, parecia o único lugar seguro.
O que queria? Queria que eu fosse acusado de assassinato? Queria que eu permanecesse o resto de minha vida amarrado a um muro, sem luz, rodeado de ratos? Queria matá-lo? Eu fiquei sozinho ao lado de seu cadáver. Mas quem ia acreditar? O senhor conheceu os nativos. Talvez acredite quando falo que não sabemos nada da natureza. Tentamos roubar o fogo, mas ele é Proteus. Aquele cadáver me observava de olhos abertos. Se eu o jogasse no mar seria acusado de assassinato. Ele começou a se decompor. Eu o pendurei do lado de fora. O vento fazia seu braço acenar. Mas eu mantive a luz acesa até meus colegas chegarem, não sei quanto tempo depois. Me olhavam como se não me reconhecessem. 
Estávamos naufragando desde o primeiro dia. Naufragando porque nos odiamos, porque nos amamos, porque éramos a humanidade. Dizem que sou louco. Sim, senhor, o senhor está condenado. Eu também nunca mais sairei daqui. Aqui é a casa de Davy Jones. 

Afonso Junior Ferreira de Lima 


quarta-feira, março 04, 2020

"Alguns Contos" - 2006

"Alguns Contos", Porto Alegre: editora Suliani, 2006. 

"De Afonso Jr. se pode dizer que ele tem a vocação do contista. Em primeiro lugar é, em matéria de narrativa, um minimalista; consegue, em uns poucos parágrafos, construir uma situação ficcional que envolve o leitor. Ao mesmo tempo, tem um seguro domínio da palavra, o que, em matéria de textos curtos, é essencial. Finalmente a sua matéria-prima é aquela que todos os contistas perseguem: a condição humana em momentos críticos. É um trabalho promissor, o dele, e os leitores farão bem em acompanhá-lo." 
Moacyr Scliar