Quando, em desgraça com a fortuna e aos olhos amigos,
Meu caminho eu choro de homem sozinho,
E perturbo o surdo céu com meus inúteis gritos,
E olho para mim mesmo e amaldiçoo meu destino,
Desejando ser mais rico em esperança
Talhado como ele, como ele cercado de gente
Desejando deste a arte, daquele a bonança
Com o que mais aprecio menos contente;
No entanto, nesses pensamentos, quase submergindo,
Talvez eu pense em ti, no sorriso que me deste
(Como a cotovia ao amanhecer surgindo
Da terra sombria) que canta hinos no portão celeste;
Quanta riqueza tenho, teu doce amor lembrado
Com reis a troca desdenho de estado
*
When, in disgrace with fortune and men’s eyes,
I all alone beweep my outcast state,
And trouble deaf heaven with my bootless cries,
And look upon myself and curse my fate,
Wishing me like to one more rich in hope,
Featured like him, like him with friends possessed,
Desiring this man’s art and that man’s scope,
With what I most enjoy contented least;
Yet in these thoughts myself almost despising,
Haply I think on thee, and then my state,
(Like to the lark at break of day arising
From sullen earth) sings hymns at heaven’s gate;
For thy sweet love remembered such wealth brings
That then I scorn to change my state with kings.
(Sonetos, 1609)