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domingo, novembro 05, 2006

Fui convidado a escrever um texto sobre o centro, em época de Livro:

Quartir Latin caipirinha

"Minha vó está nos Bancos". Todo mundo achava umagracinha quando eu dizia isso, com 4 anos, e os Bancos eram no Centro. Não havia nada mais chique do que irbem arrumado "cuidar da vida" ou tomar um sorvete, euna mão de minha avó, perfumada e com broche brilhante (Uma vez comi um Pijama Havaiano, com 12 bolas e orgulho gaúcho - aliás, só comi 11).

Sinto um pouco a nostalgia pelo centro de Mário Quintana, aliás, comodizem os franceses, quem mora no centro têm mesmo devez em quando essa "nostalgia da lama", uma necessidade de grama e árvore, nada que o Gasômetro ea Redenção não amenizem.

Hoje o centro mudou, aliás, tudo. "No brasil, tudo brilha", "Tudo está em movimento", "nunca vi tanta gente junta" me disseram alguns amigos estrangeiros. ACidade Baixa é um "Quartier Latin".Quem sabe? Sorbonne com caipirinha. Claro, eu também tenho meus momentos de irritação comesse borburinho. Com o alto imposto para empresas médias e a tecnologia, 60% dos brasileiros vive de"bicos", e o camelô é a cara do Centro, queiramos aonão.

Há algo de poético em fazer uma caipirinha com olimão que Deus te deu. Quando, na era Positivista, o Centro foi"higienizado", segundo o modelo europeu, os pobresforam afastados dos tradicionais "becos" para a zonada Independência, a Colônia Africana. Agora voltam, numa vingança alegre e triste, no "Jesus te ama" e no"fábrica de calcinha". Hitler quis fazer de Berlin umacidade modelo, grega, e quem sabe não está aí a origemdos fornos para judeus, nossa mais infame herança doséculo recém ido.

Por falar nisso, os Voluntários da Pátria (hoje, a ruada Muvuca informal), foram cidadãos que seapresentavam para lutar na Guerra do Paraguai, ao ladodo mal armado Exército Brasileiro, a maioria escravose negros alforriados, que pensavam em ganhar aliberdade ou reconhecimento.Morreram ou voltaram sem nada, muitos tornando-se trabalhadores braçais.

Que coincidência irônica! Mesmo assim, eu penso que um dos lugares mais interessantes do mundo (diz alguém, "para o gaúcho oRS é Delphos, o Umbigo do Mundo") deve ser essecruzamento Centro-Cidade Baixa. Quem aqui mora estámais próximo da realidade de maioria, mas vive aindaum clima de “cidade do interior” e tem oportunidades ímpares de viver a cultura. A maioria das lembranças boas que eu tenho têm a ver com esses bairros; nascino Centro, vivi quase toda a vida na Baixa City (cadavez mais alta, novos prédios).

Um conjunto colorido de jovens universitários, jacarandás, mendigos, pastel na República,intelectuais, Feira do Livro, feira livre, SantanderCultural (salve Nossa Senhora do Dízimo!), skate eTheatro São Pedro. Uma das emoções maiores que eu játive foi ver a Lua imensa sobre o Guaíba, depois deaberta a orla do cais. Não é, apenas, o melhor pôr-do-sol do mundo, por ser o meu."
ajr

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