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terça-feira, junho 09, 2015

O terreno

Juan viu seu filho entre um sofá na grama e um brinquedo. Quando ele deixara de existir? Lembrou que seu pai ganhara uma casa do governo. Juan comprara aquele imóvel de três quartos - 25 m² - quando o novo bebê nasceu. Irmão, mãe, três filhos, ele ganhava um bom salário como porteiro, Mister Dodson lhe incentivou a "parar de depender dos outros". Acordou do sonho. Era impossível entender. O valor da casa aumentara, a hipoteca também. O cara do banco disse que sua casa era um produto financeiro. Quando ele foi ao bando, desesperado, que o fato de ele deixar de pagar iria acabar com o país. Seu filho chora: "quero meu quarto". Ele lembrou do amigo que morava num antigo conjunto de habitação popular. O lugar tinha se deteriorado, parara de receber atenção do governo. Os filhos tinham vergonha de falar que moravam ali. Outro conhecido tinha comprado uma casa e, com a crise, os donos da construtora sumiram, suas economias tinham evaporado, greve de fome dos clientes. Outro conhecido viu seu bairro ser demolido, depois que os todos começaram a bater nos seus filhos. Juan viu sua televisão na grama e pegou o menino no colo. "Vamos para casa do vovô. Vou deixar você com ele", e uma lágrima caiu. 

Afonso Lima

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