Uma obra de metrô descobriu esqueletos
Uma cidade inteira dorme sob efeito de gases tóxicos
Penso nas casinhas antigas ameaçadas por novo cimento
Um enxame de palavras, bacantes anêmicas sentadas à beira do rio escuro
Quem me diz que o concreto é já feito também lança a sorte
Alguém me diz que não precisa do passado e só o futuro lhe interessa
Efemérides
um pouco de folhas caindo sobre mim
caminho pelo bosque de repente
a folhagem ganha um sol novo
um dedo-fruto brota do tronco
o tronco truncado de uma árvore
e o lago coberto de leves folhas
libertar o pássaro-mundo de sua gaiola
os demônios da vingança, a lua banhada na fonte
a água enamorada de Orfeu, em tempos de planejamento
discurso oficial dispersado minha inteligência universal escuta mago
o eu não se impõe
surge
treino um olhar capaz de duvidar
é o mesmo para mim
por onde hei de começar
o mesmo é ser e pensar
tenho um bom coração
mas isso não dá poesia
Afonso Lima
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