o efeito do real, acumulação de detalhes da vida diária, mas quem sou eu?, quem sou eu para falar?, depois que a história foi chutada, depois que a subjetividade foi trazida, depois da máquina-moderna, do poder moderno, da produção de kafka, mas aí está você, você com suas pernas sujas, seu cobertor molhado, pedindo um dinheiro, feijão e arroz, carne, e eu tenho de falar de você, por você, a forma como a menina lhe deixou e você veio, a cidade lhe rejeitou, tenho que contar que um banho custa caro, que anteontem tomaste, e eu tenho algo a fazer, eu não posso ouvir, eu te dou algumas moedas, comida e volto ao meu texto, mas agora foi fechado o hotel que custava 5, só tem de 10, drogas lá dentro, mas você não, nunca, e eu quero lhe dar uma marmita, medo da polícia, mas você não gosta de lasanha, arroz enche mais, e você volta pra a entrada do metrô, e teve de dormir na rua na inundação, e eu volto com 10, e amanhã não sei se estará, e eu tenho de seguir, a mim coube, do tênis que o trabalhador precisa, do sabão que o trabalhador precisa, daquele que nem é trabalhador e precisa, subversão, o efeito do real, e eu tenho de escrever que é quem sou
Afonso Junior Ferreira de Lima
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