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sexta-feira, fevereiro 09, 2018

O homem atômico

Os tanques chegaram ao palácio às quatro da manhã, uma névoa tomava conta do pátio.
O presidente e sua esposa foram levados à prisão.
A primeira declaração pública do novo chefe de Estado - um tanto incomodado com o púlpito cheio de microfones - falava de guerra atômica.
As pessoas coçavam a cabeça.
- Por que desenterrar essa história tão antiga?

Do outro lado do mundo, o líder do mundo livre imediatamente respondeu falando em "guerra atômica". Precisava de mais de um trilhão de dólares.
Os jornais falaram nas reduções governamentais no financiamento para a ciência. 
A mídia conservadora na internet bombardeou sobre o efeito positivo da saúde fiscal. 
Jornalistas lembraram do vexame nas instituições internacionais, ataques à justiça nacional, o novo imposto sobre universidades e cortes fiscais para os ricos e para as suas corporações.
O presidente disse à sua mulher:
- Não precisamos negociar. Democracia é publicidade. 
Ele promoveu um baile de gala e tuitou:
- Os inimigos do povo usam sofismas para colocar o Mundo Livre em perigo.
Um jornalista levantou a suspeita, sugerida por uma fonte, de que o presidente pacifico do outro lado do mundo fora derrubado com apoio das agências de inteligência, já que o governo recebeu muito dinheiro do complexo industrial-militar. 
Um senador propôs uma investigação, recebeu visitantes na sua sala. "Socialismo democrata" no muro.
O alarme soou preparando os cidadãos para a guerra atômica.

Afonso Junior Ferreira de Lima

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