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segunda-feira, fevereiro 04, 2019

O inferno

A sala estava com um cheiro insuportável. Os legistas tentavam mapear a cena.
Ele podia sentir as vibrações no amplo recinto. No centro do altar, uma cruz nua.
Aproxima-se de um corpo e observa os símbolos na palma da mão.
- O que faz com que esses jovens se tornem terroristas? - pergunta o policial.
Ele sabia.
Nas ruas, uma manifestação.
O presidente falara pela rede contra os traidores, os inimigos da paz e do progresso. 
- Os recursos são poucos, não se pode aceitar a sobrecarga sobre a população produtiva.
O plebiscito se aproximava.
Primeiro, imigrantes foram proibidos. Depois, mulheres foram obrigadas a evitar a gravidez. Por último, havia a proposta de um deputado religioso de criar um estado só para mulheres, já que "sem crianças, elas são desnecessárias".
Mas a ideia do plebiscito foi aprovada.
Intelectuais e jornalistas debatiam a melhor forma de eliminar o custo para o estado. O "excesso" devia ser eliminado periodicamente.
Deputados humanistas diziam que o desemprego é fabricado.
Ele podia sentir que mais e mais fanáticos atacariam recebendo a influência da voz infernal.
Era preciso a redução populacional.
Tem um sonho. A barreira que protege a cidade do mar tem rachaduras.
Um deus militar fazia com que demônios e anjos atacassem a barreira.
O que ele não imaginava, era que os milhares de corpos na cidade teriam o símbolo nas mãos.

Afonso Lima

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