Quando criei um país fictício, sendo um geo-arqueólogo e artista, queria apenas fazer uma ironia com a falsificação de objetos que está inundando as vendas de antiguidades. Criei mapas, artefatos, tapeçarias, criei falsas escavações e detalhei os vestígios da terra mágica.
Teria existido na Espanha algo assim? Primeiro um arqueólogo amador confirmou minhas descobertas com fotos. Mais tarde, uma palestra numa universidade alemã citando meus escritos e desenhos. Em seguida, leilão de objetos do mundo fictício. Depois, TV, e confesso que fiquei calado diante do efeito improvável. Provava a influência do "bárbaro" no coração da Civilização. Culpei-me por ter dado como provas pistas em ilustrações muito reais. Por exemplo, a cena do baile brasileiro no casamento da filha de Henrique II e Catarina, Isabel, com Felipe II em 1550.
Quando meus mapas foram expostos na galeria do Museu da Luz, não adiantou eu dizer de sua falsidade. As filas percorriam os corredores com a surpresa eufórica de um novo descobrimento. Revistas de ciência debateram minhas idéias com seriedade. Fiquei surpreso quando um livro velho numa biblioteca parecia confirmar meu achado: mas não consegui ter certeza de que a obra era anterior a minha criação.
Um repórter me propôs um documentário. Decidi verificar se meu reino poderia ser falsificado. Nem sempre se pode observar o real, entretanto: é preciso imaginá-lo. Juntei argumentos para provar a improbabilidade da civilização fabricada. A comunidade científica veio em meu encalço, antes mesmo do show ir ao ar, e a Televisão desistiu do projeto.
Comecei a me retirar em minha mansão nas colinas. Esse mundo "real" não era desmontável.
Uma vez por mês, ando duas horas para visiter o museu sobre meu país estranho. Quantos museus estavam ganhando com esse passado? Caminhei no silêncio, é como se as sombras de minha arte me observassem de modo sinistro. Lembrei-me dos filósofos árabes, para quem magia com sons e os nomes de Deus era permitido, mas nunca com os Daemons.
Afonso Junior Ferreira de Lima
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