O homem grita no palco:
- "É bem perigosa a tentação que nos atrai ao pecado amando a virtude!"
- É assim! - responde a massa de fiéis.
- "Uma mulher atravessaria o fogo e a água para ter um homem tão bandoso!" - grita a reverenda.
- É assim! - respondem os fiéis.
- "Tenho de acreditar no meu mestre!" - ela diz.
Na sala de entrevista, o repórter pergunta:
- Qual o objetivo de colocar a obra do dramaturgo como Livro central da sua visão de mundo?
- Precisamos de frases simples que possam atrair pela emoção - disse a mulher. Shakespeare é um sucesso há séculos, a começar pelos seus atores que tinham muita coisa para decorar.
- Mas o próprio dramaturgo não tem uma obra contraditória e ambivalente? Como dizer que As Obras Completas é uma coisa só.
- Shakespeare é simplificação. Percebemos que a idéia de pessoas continuamente gerando perguntas desuniu a sociedade. A esquerda quer dizer que existe "nós" e "eles". Levando em conta a multiplicidade de autores com os quais a Academia tem tentado criar confusão, a Igreja de Stratford-upon-Avon diz que "um Bardo une, um protesto divide" - o reverendo respondeu.
- Vocês falam em deportação em massa de trabalhadores não-brancos. Shakespeare aceitaria isso?
- “Vosso genro é muito mais belo do que negro”. Otelo, Ato I, cena III. - Como surgiu a ideia?
- Do método dos atores. Eles recebiam muitas páginas apenas com suas falas, mas sem a visão do todo. Medo e raiva, é assim que o mundo gira - diz a mulher. Shakespeare dá responsta para tudo.
Afonso Junior Ferreira de Lima
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