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terça-feira, agosto 25, 2020

O rosto sujo

O livro, resultado da conferência de antropólogos, acaba de ser publicado.
São manuscritos de várias épocas, analisados em artigos fantásticos.

*

O robô bateu na porta. Ela abriu.
- Daqui a dois dias, a senhora vai querer comprar esse produto - ele disse.
Se quiser devolver, entre em contato.

*

A primeira-dama matou a jovem com extrema perícia. Os tambores abafavam o ritual.
O presidente colocou sobre o altar um ramo de flores e sorriu para a foto.
Serviam os pedaços ensanguentados em vasos decorados como nos tempos antigos.
Era um pouco constrangedor, sempre, e a primeira dama tentava sujar o queixo o mínimo possível.

*

O agressor com seu chapéu para proteger a pele muito branca. O filho do presidente, deputado,  entrega a lista de inimigos do estado. O diplomata toma sua caipirinha.
- É um pouco deprimente as raças inferiores espionarem a si mesmas - diz.

*
Como bom religioso, ele lavou suas mãos, fez o sinal e fez suas orações. Aparece no vídeo.
Começou com jornalistas perseguindo o grupo político que contrariava seus financiadores. Os próprios foram perseguidos por uma máquina policial e de propaganda. "O debate racional foi perdido, é preciso desviar a atenção", era a frase que vazou da reunião presidencial.


*
As máquinas permitiam que as pessoas vivessem para sempre. Mas elas iam se tornando cada dia mais desidratadas, penduradas em seus casulos. O programa recebeu o apelido de "vidas secas" pela internet. Logo, todos os alvos preferenciais recebiam milhões de mensagens sobre a "beleza das vidas secas imortais".

*
Ela abria a Bíblia. Sobre ela, seus filho adotivo derramava o líquido. Sua ex-namorada, agora irmã, bebia o sangue. Foram elas que criaram os ritos da nova dinastia.

*
Serviam os pedaços ensanguentados na festa de aniversário.
O presidente queria exterminar o maior número de cidadãos possível.
República exportadora. Sacos pretos, em todas as cidades, carregados nas celebrações de domingo.
A primeira dama seguia sua conselheira bíblica, devia descobrir sua paixão mais profunda; talvez fosse a carne feminina, tentava sujar o mínimo possível.

Afonso Jr. Lima 

domingo, agosto 23, 2020

quinta-feira, agosto 20, 2020

geografia da cidade

nada existe do que não persiste
a luz também é acalentada
mortais e imortais devem amar-se
a casa escura deixa o pó nascer
e enlouquece, filho trágico da
doença e ruína
capricho e maldade
todos os tipos de bichos

nada fica do que não reafirma
a canção também é união
as graças perfumam a deusa
as horas lhe cobrem de ouro
a paixão pelo dia bom
a democracia nasce de cada dia

nada existe do que não respira
a luz também é revisão
seguir no mar das paixões
o desejo e a luta pintados em moldura
as origens são a guerra evitada
o poder vigia o poder
a cidade nasce do amor

a narração é sempre uma luta
os ventos novos
a bela música
nada fica do que não pacifica
a força também é carnaval
a palavra mágica
faz a igualdade

AJr

segunda-feira, agosto 17, 2020

el fuego

Fue una nube que cayó sobre Montevideo
Los huesos se vuelven grises
Una niebla se elevó por las calles
Los edificios observan, se han vuelto más de piedra
Él desapareció, ella desapareció
La tierra esta mas fria

Nos callamos
nos escondemos y no soñamos
la gente piensa que es pequeña
no hablamos de eso

Se equivocan
- descubre en ti mismo
otro ser no deseado -

el fuego
mis líneas de silêncio
cativo na dura piel
musica memoria

los primeros señores del río
mi canción de honor
apesar blanca flor
el verbo libera

Afonso Jr Ferreira de Lima

Soul

não sou um robô
minha mãe suou
no parto

não sou um robô
preciso de frutas

não sou um robô
aprendo as letras

desmonto as letras
não sou um só

sou de quebrar
adoro suspense

sou de ser tudo que der
sou de poder mais que imaginas

não sou um robô
beijo a sereia
coisa de rolar na areia
roubar certezas

sou potente
vivo de sonho

não é só luar
preciso casa pra morar

não sou um robô
minha unha cresce
na lua cheia

não sou um robô
meu coração se parte

não sou um desses
como arte
sou de amar coisas malucas

sou uma serpente
o que não se repete
sou gérmen de gente

não sou um robô
eu trituro fronteiras
não sou um robô
sei quem não sou

preciso abraço que me alimente


Afonso Jr Ferreira de Lima


paródia

a língua subverte
cortem a língua
enquanto conto
me torno outro
enquanto passo
jogo o todo
recorto as coisas
revivo os ossos

a língua absorve
cortem a língua
movo os ossos
enquanto conto
balanço as coisas
a língua é outro
música do todo
enquanto passo

a língua come
cortem a poesia
cadáveres em passos
cavaleiros de ossos
romances todos
na nudez do conto
vira outro
monto as coisas

existem as coisas
no passo do verso
mundo outro
de ossos leves
conto na música
todo o outro
a língua floresce
vivam a língua

Afonso Jr Lima

quinta-feira, agosto 06, 2020

corpos sem nome

liberdade liberdade esse poema é para ser poemático nada faz sentido e nem deixa de dançar o amor do significado pela música e o desimportante observa o desimportante minha janela quem criou esse mundo? nós que não servimos humanidades livres descalculadas névoa de cores traduzindo o buraco liberdade liberdade *** Afonso Jr