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quarta-feira, junho 28, 2006

Paulo Autran 1

A peça "O Quadrante" diz em seu programa que "o teatro, em essência, se faz com uma idéia, um intérprete e alguém para ver e ouvir". Pode parecer óbvio, mas quem tem o prazer de ver esse alguém falando pensa mesmo sério sobre a capacidade de muitos atores de dizerem um texto.

Para mim o que caracteriza o ator é inteligência, capacidade de peceber os nuances do humano e reproduzí-los. Um bom ator entende o que está sendo contado. Parece fácil, mas a maioria dos atores apenas repete, até fala palavras das quais desconhece o significado.

Paulo está com 83. É diversão pura, como velhinha, como mocinha, como narrador e até como onça. Aliás, ele realmente se transforma. Cada gesto, cada som, uma mão que significa isso, um som que desconstrói o que é a palavra, ele vai levando o público com suavidade até o riso. Como onça simplemente dá medo.

Eu o assisti em Rei Lear há muitos anos. Lembro-me que era comovente, mas lembro-me também das cenas de batalha com bastão, indas e vindas...

Claro, o teatro hoje pode e tem de ter movimento e cor, pois o público da tv...
Mas Paulo me lembrou que queremos é mesmo ouvir uma estória, e para isso o ator tem de entender, ser gentil e transmitir vontade de viver. Entender significa: saber mais do que foi dito, dizer mais do que foi falado; ser gentil significa estar aberto para comunicar, interessar-se por e querer atingir um ser humano; e o resto vocês sabem.

Uma senhora atrás de mim bocejava um monte, e uma hora disse "não acaba, que coisa chata". Foi tão fora de circunstância que me fez pensar porque certas pessoas vão ao teatro.
Acho que o teatro também mexe com a coisa de que podemos ter prazer, momentos de pura contemplação de nada, o que não é fácil para certas pessoas...
Paulo, Paulo, que grande amigo és, de todos nós.

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