Tempos de Esquecimento
O poeta na era da TV
Estou lendo Rilke. Ele fala de uma ampla solidão.
Vivo na era em que muitas pessoas egoístas impõe seu eu, repetindo automaticamente slogans simples, "progresso", "indústria", "tecnologia", deslocados das necessidades primárias da vida.
Uma aristocracia ridícula, grosseira e gentil, dócil, opressora, se considera raça superior: olhos azuis te tornam competente, belo, promissor.
O escritor tem de "impor seu eu", a imagem de escritor torna alguém escritor.
Não há maior contradição com a natureza do poeta do que ter de "vender sua poesia".
Justamente porque não fez isso por depender da compaixão, do poder exercido por outra pessoa, não quer, nem merece, ter de "promover" nada. Ele quer uma solidão repleta, abandonando tudo que é demais, ficando com as coisas simples e produtivas, em primeiro lugar a gentileza.
Entretanto, parece agora uma questão de olhar, a mais simples empiria: seu trabalho nem sequer chega às mãos das pessoas sem o uso da propaganda.
O livro é um artigo de luxo, para a aristocracia.
Tem de levar então em conta a utilidade, sabe do prazer em entender um pouco esse mundo invisível e real- essa alma cheia de tristeza, medo, paixão desgovernada, que é o hábito do ser, a castração da tradição, a ignorância da informação e também os poderes econômicos, ou será um "entretenimento".
"Dizer o que vê e vivencia e ama e perde", diz Rilke. O artista contemporâneo tem de saber de uma realidade que envolve poderes globais, Estados, tecnologia e manipulação de mentes. O real.
Contra o pensamento inercial, vago, contra o pensamento produtivo sem resultado, abstrações econômicas e ideologia desgovernada. A vida, dia a dia.
As notícias comerciais são fotografias sem nexo; não há conversa em espaço livre, a restrição do diverso, evolução. Os políticos "do progresso" falam "slogans" para simplificar a realidade, já que as mentes estão atordoadas de informação sufocante, pois, de alguma forma, a informação serve para agir, e informação demais, genérica, mata. Desesperadas por um caminho, as mentes aceitam.
A poesia pertence ao barro- aos sentidos que libertam o pensar. Tornar a mente mais flexível para um mundo em mutação. Arte, objetividade: não àquela inflexível, mas capaz de "abarcar a vida" como quer o poeta. O nome não dito dos dias que virão.
A ética é a base de qualquer verdadeira arte; aquela que vai de encontro às idéias desaclopladas, aos sentidos intoxicados, a ação brutal dos olhos, com compreensão variável, se um ramo vem, abaixe-se! Não uma ética do dever; as cores são abrir os olhos para o prazer da vida, olhar pela coisa da vida, querer que a vida floresça, e caminhos de bosque e água.
Não se aplica à vida o Alto (que esquece o particular), nem o "baixo" (como hedonismo ou consumismo), mas a vida de todos com todos. O mundo político, o mundo das paixões ocultas, o mundo espiritual, o mundo profundo.
A arte busca a experiência comum do sentir, o saber comum, a linguagem verificável de um referencial humano; a filosofia é linguagem de outra linguagem, o referencial é distante, baseado em um mundo de autor. Hoje, com o desaparecimento da realidade, do sofrimento, da exploração, da dor, ela tem de ser vendida pasteurizada em filmes de Hollywood: sofrimento drops, notícias, terror bizarro.
Lindas flores, lindas praças, cultura, lindos carros, mas alguém é ferido de morte: "não toca na criança, nega suja!" - diz alguém no supermercado para a mãe morena de uma filha loira.
A arte pela arte também é arte pela vida. Hoje: abundância de palavras sem a vida, eus em desconexão com suas partes; até o governo tem de dar lucro e o bem comum é um estorvo. As únicas forças ativas são os vendedores globais, de idéias, de projetos, de cultura.
Um tempo de grande ansiedade, de entrega do eu, incompreensão.
Talvez toda a morte seja a dependência do que não dependemos. O pior tipo de dependência é a
dependência da ação dos outros. Dependência de reconhecimento.
O poeta não quer que ninguém o tenha como guia. Se tiver ajudado a criar uma personalidade única, terá bastado.
Os artistas reais- sim, pois os artistas burgueses são aqueles preocupados em afirmar que a vida é menor que o que parece- são contra idéias parciais, direita hoje é ver parte do todo, soluções antigas, esquecer pessoas, poder, sofrimento. Os meninos param de ir a aula porque não tem passagem de ônibus, as meninas trabalham de segunda a domingo no comércio e não podem estudar.
Se nos prometem tudo, o conforto perfeito, não temos paciência com a realidade. Queríamos nosso mundo fácil de filhos, trabalho, carros, parques, repressão familiar, filmes, livros, ambição intelectual, filhos, queríamos que essas dificuldades do nosso eu íntimo e de nosso ambiente fossem as únicas, pois são imensas.
Para nós, a minoria privilegiada, há tanto barulho, tanta novidade, o pensamento se angustia. Não responde ao mundo lento. Um mundo pequeno, 5 autores, 5 amigos, 5 ruas, 5 programas de TV, a realidade foi soterrada.
É por isso que para Joyce, "nenhuma vivência foi ínfima demais": seu detalhismo também é "uma visão mais simples, uma fé mais profunda" a partir da demolição da realidade pré-fabricada, fábrica, família, procriar, religião regrada.
A arte é adaptação à vida, com alegria. Tornar a mente flexível para o real que se apresenta, não usar a cultura para uma arrogante rigidez.
mergulham n´água os barcos
eu, em mim mesmo
nada há lá que se acha
revelação, interesse
a não ser experiência
coisas-pássaros
o reino das coisas, não falável
a realidade que nos move, muda
concretude
o mistério além do misterioso
solidões
deixe-me viver, na´tureza, e serei agora
ajr
terça-feira, outubro 24, 2006
segunda-feira, outubro 23, 2006
Acabo de ler um ótimo depoimento sobre a violência contra a mulher, da Desembargadora Maria Berenice Dias.
http://www.mariaberenice.com.br/
Chocante, terrível.
Como sou uma pessoa muito metida, resolvi comentar. :)
(as mulheres vêem mais, haja paciência com os homens!)
Para mim- é óbvio isso?- a violência contra a mulher começa na violência contra o homem.
(mas como diz a juíza, a culpa é de todos mas a vítima é uma só: a mulher!)
Não há dúvida alguma de que a voz da mulher tem de ser valorizada e de que o infrator deve ser responsabilizado perante a lei com todo rigor e não como se "fosse coisa de mulher".
Bater em mulher não pode ser "bobagem": é crime, e agora recebeu o devido peso.
Mas o homem dessa mulher sofre todo dia, toda hora, o estigma de ser um fracasso, de não poder sustentar essa mulher.
O homem negro é visto como "ladrão" e não lhe dão espaço social. A mulher é criada para apanhar, para aceitar; o homem para ganhar, se perder, para ser ativo, batendo. A violência é "simbólica", é essa rede de normas que, roubando a informação, a possibilidade de criação, a liberdade de crítica, escraviza como consumidor e, pior, ser irremediável, lixo.
Quem TV?
O que observei nesse trabalho na Lomba do Pinheiro - Instituto popular de Arte- Educação- é que se as mulheres sofrem vítimas de uma cultura que as via como passivas, os homens sofrem como vítima dessa mesma cultura que os vê como ativos: devem manter o lar, ter emprego, sucesso, etc. A falta disso os leva à bebida, e, adivinha?
Também descobri que é muito fácil e barato corrigir uma pessoa: A Rosa Lopes, do Banco do Brasil assiste uma infinidade de creches por Porto Alegre pegando 10 reais por mês de alguns funcionários. Ela descobriu que se não desse padaria, curso de bijouteria, marcenaria para os homens, as criançlas seriam espancadas.
claro que para nós que vivemos num mundo de idéias, parece até ridículo falar em pulseirinhas de bijouteria: entretanto o que quero dizer é que nem toda idéia é faraônica, as necessidades são imediatas e bem simples de serem resolvidas.
Lembro me de um caso chocante. Um rapaz negro chegou lá e não tínhamos mais cestas básicas para dar. Eu deu do nosso rancho pessoal um kilo de arroz. No próximo mês ele voltou, completamente drogado, dizendo que os filhos estavam passando fome e que ele, como iso, caiu no crack, tremia todo; chorou dizendo que seus filhos precisavam de comida. Perguntei pra Marta, que é de lá: você acha que ele está mentindo. - Não Afonso, é verdade. Quem vai dar emprego para analfabeto e ainda mais negro?
Ou seja: mulher apanha de marido sem vergonha, mas antes disso, sem saída.
Uma coisa leva à outra: teremos de englobar a violência contra o homem" no debate da "violência contra a mulher. Economia é feminismo.
Por outro lado hoje me contaram de um rapaz negro que namorou uma moça loira em Santa Cruz, ambos com 15 anos; a moça engravidou e a mãe denunciou o menino como estuprador; ele ficou um ano todo preso até que a menina confessou que agiu por vontade própria. Que juiz é esse?
Ficamos com Rilke :
"A grande renovação do mundo talvez venha a consistir no fato de que o homem e a mulher, libertados de todos os sentimentos equivocados e de todas as contrariedades, não se procurarão mais como adversários, mas como irmãos e vizinhos, unindo-se como seres humanos, para simplesmente suportarem juntos, com seriedade e paciência, a difícil sexualidade que foi atribuída a eles".
Rilke, Cartas a um jovem poeta.
http://www.mariaberenice.com.br/
Chocante, terrível.
Como sou uma pessoa muito metida, resolvi comentar. :)
(as mulheres vêem mais, haja paciência com os homens!)
Para mim- é óbvio isso?- a violência contra a mulher começa na violência contra o homem.
(mas como diz a juíza, a culpa é de todos mas a vítima é uma só: a mulher!)
Não há dúvida alguma de que a voz da mulher tem de ser valorizada e de que o infrator deve ser responsabilizado perante a lei com todo rigor e não como se "fosse coisa de mulher".
Bater em mulher não pode ser "bobagem": é crime, e agora recebeu o devido peso.
Mas o homem dessa mulher sofre todo dia, toda hora, o estigma de ser um fracasso, de não poder sustentar essa mulher.
O homem negro é visto como "ladrão" e não lhe dão espaço social. A mulher é criada para apanhar, para aceitar; o homem para ganhar, se perder, para ser ativo, batendo. A violência é "simbólica", é essa rede de normas que, roubando a informação, a possibilidade de criação, a liberdade de crítica, escraviza como consumidor e, pior, ser irremediável, lixo.
Quem TV?
O que observei nesse trabalho na Lomba do Pinheiro - Instituto popular de Arte- Educação- é que se as mulheres sofrem vítimas de uma cultura que as via como passivas, os homens sofrem como vítima dessa mesma cultura que os vê como ativos: devem manter o lar, ter emprego, sucesso, etc. A falta disso os leva à bebida, e, adivinha?
Também descobri que é muito fácil e barato corrigir uma pessoa: A Rosa Lopes, do Banco do Brasil assiste uma infinidade de creches por Porto Alegre pegando 10 reais por mês de alguns funcionários. Ela descobriu que se não desse padaria, curso de bijouteria, marcenaria para os homens, as criançlas seriam espancadas.
claro que para nós que vivemos num mundo de idéias, parece até ridículo falar em pulseirinhas de bijouteria: entretanto o que quero dizer é que nem toda idéia é faraônica, as necessidades são imediatas e bem simples de serem resolvidas.
Lembro me de um caso chocante. Um rapaz negro chegou lá e não tínhamos mais cestas básicas para dar. Eu deu do nosso rancho pessoal um kilo de arroz. No próximo mês ele voltou, completamente drogado, dizendo que os filhos estavam passando fome e que ele, como iso, caiu no crack, tremia todo; chorou dizendo que seus filhos precisavam de comida. Perguntei pra Marta, que é de lá: você acha que ele está mentindo. - Não Afonso, é verdade. Quem vai dar emprego para analfabeto e ainda mais negro?
Ou seja: mulher apanha de marido sem vergonha, mas antes disso, sem saída.
Uma coisa leva à outra: teremos de englobar a violência contra o homem" no debate da "violência contra a mulher. Economia é feminismo.
Por outro lado hoje me contaram de um rapaz negro que namorou uma moça loira em Santa Cruz, ambos com 15 anos; a moça engravidou e a mãe denunciou o menino como estuprador; ele ficou um ano todo preso até que a menina confessou que agiu por vontade própria. Que juiz é esse?
Ficamos com Rilke :
"A grande renovação do mundo talvez venha a consistir no fato de que o homem e a mulher, libertados de todos os sentimentos equivocados e de todas as contrariedades, não se procurarão mais como adversários, mas como irmãos e vizinhos, unindo-se como seres humanos, para simplesmente suportarem juntos, com seriedade e paciência, a difícil sexualidade que foi atribuída a eles".
Rilke, Cartas a um jovem poeta.
sexta-feira, outubro 06, 2006
Os norte-americanos nunca erram?
Passado o choque começamos a notar, nesse domingo, que:
A) se o jato foi testado antes de decolar e estava novinho e funcionando. Foi testado na base de Cachimbo e estava funcionando.
B) se o avião da Gol nunca deixou de se comunicar nem saiu da rota
C) entre a "batida" e o pouso, 30 minutos depois, o jato não reporta aos controladores de vôo o acidente.
A culpa deve ser mesmo dos pilotos norte-americanos. Um especialista comentou que os pilotos tendem a mudar a rota para gastar menos combustível, mas devem avisar os controladores.
Agora surge a notícia de que teriam voado a 37 mil pés, quando deveriam ter mudado a rota para 36 mil após Brasília. Mas eles afirmam que foi culpa da torre, que não teria respondido. Só que neste caso, deveriam ter mantido a rota original, como manda a regra. Tudo indica, ainda, que o transponder, que avisa possíveis colizões, estava desligado.
Ou seja, tudo indica que não só foram responsáveis, como podem ter mentido.
Agora o que a imprensa norte-americana está falando? O jornalista em todas as TVS, esse país das bananas que não sabe nem controlar aviões...
Sam Meyer, presidente da divisão nova-iorquina da Allied Pilots Association chega a dizer, antes de informações seguras:
"ninguém vai querer ir para um lugar onde, após sofrer um acidente, você pode ir parar na cadeia e alguém jogar a chave fora''
Apesar da Aeronáutica afirmar que não há zonas sem controle ou "de sombra"na área, o repórter preconceituoso diz:
"Não sei se os pilotos tiveram alguma culpa", acrescentou o repórter. "Talvez a culpa seja do sistema de controle de tráfego aéreo deficiente sobre a Amazônia, que é um fato bem conhecido na aviação."
E deputados americanos preoscupados se um cidadão norte-americano vai responder pelos seus atos.A discussão é antiga e diz respeito a um tribunal internacional.
Que patriotada!
O presidente da ANAC disse ser "insana" esse tipo de afirmação...
Sorte que: "a Fundação Internacional de Segurança de Vôo, com sede nos Estados Unidos, divulgou uma nota em que elogia os métodos de investigação de acidente aéreos do Brasil. Segundo o Jornal Nacional, a nota ressalta a tradição de investigações independentes, sem interferência do governo".
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1178707-EI7792,00.html
Ainda é cedo para qualquer coisa, mas como todos sabem, os norte-americanos nunca erram...
Crianças selvagens
Um menino, numa propaganda da Renault, pergunta para seu pai sobre os novidades do seu automóvel novo. Quer contar para seu padrasto. A criança deve ter menos de dez anos. Um novo tipo de propaganda selvagem, que tornam explícita a mensagem da propaganda "se você não comprar não será alguém", anda envolvendo crianças que falam como adultos em termos de consumismo. "Você é um zero a esquerda sem um Renault," seria horrível até para um adulto.
Há algum tempo a propaganda do Mac Donalds´s foi desagradával ao fazer uma criança olhar com piedade para seu avô que só brincava de pião, enquanto ele, dava-se a entender, podia ser divertir no parque temático do hamburguer...
Que triste isso de fazer as crianças falarem o texto que os adultos mais fúteis falam. E de colocá-las na situação de quem "mostra quem é" pelo poder do dinheiro.
"Eu vou humilhar o novo esposo de mamãe mostrando que ele não tem essa grana..."
Depois a gente não sabe por que as crianças andam esses tiraninhos...
PS:
3 nov. 06
Apesar de tudo, nada justifica o tom desdenhoso da imprensa norte-americana, estilo "brasileiros são incompetentes!"
ajr
FAB confirma que controle errou no acidente da Gol
ELIANE CANTANHÊDE
Colunista da Folha de S.Paulo
FÁBIO AMATO da Agência Folha, em São José dos Campos
A Aeronáutica confirmou ontem que o controlador da torre de controle de tráfego aéreo de São José dos Campos (SP) autorizou o jato Legacy, que veio a se chocar com o Boeing da Gol, matando 154 pessoas, a voar na altitude errada de 37 mil pés até o aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus. Segundo a Força Aérea, essa autorização está gravada nas fitas da própria torre, que dá o "clearance" (autorização) para a decolagem dos aviões, e não na caixa-preta do Legacy, que era pilotado pelos americanos Joe Lepore e Jan Paladino.(...)
Em entrevista, pela manhã, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, não confirmou nem desmentiu a informação do erro da torre de São José dos Campos, que pode ser um dado fundamental nas investigações e foi publicada ontem pela Folha. Ele observou, porém, que, se houve erro da torre, ele não justificaria, isoladamente, o choque das aeronaves. "O piloto, quando perde a comunicação, deve seguir o plano de vôo." (...)
Para Lepore, não havia motivos para desobedecer a orientação recebida do controle de São José dos Campos. Segundo um piloto aposentado especialista em segurança de vôo, o diálogo revela que o plano de vôo original foi desconsiderado pela autoridade aérea. (...)
Passado o choque começamos a notar, nesse domingo, que:
A) se o jato foi testado antes de decolar e estava novinho e funcionando. Foi testado na base de Cachimbo e estava funcionando.
B) se o avião da Gol nunca deixou de se comunicar nem saiu da rota
C) entre a "batida" e o pouso, 30 minutos depois, o jato não reporta aos controladores de vôo o acidente.
A culpa deve ser mesmo dos pilotos norte-americanos. Um especialista comentou que os pilotos tendem a mudar a rota para gastar menos combustível, mas devem avisar os controladores.
Agora surge a notícia de que teriam voado a 37 mil pés, quando deveriam ter mudado a rota para 36 mil após Brasília. Mas eles afirmam que foi culpa da torre, que não teria respondido. Só que neste caso, deveriam ter mantido a rota original, como manda a regra. Tudo indica, ainda, que o transponder, que avisa possíveis colizões, estava desligado.
Ou seja, tudo indica que não só foram responsáveis, como podem ter mentido.
Agora o que a imprensa norte-americana está falando? O jornalista em todas as TVS, esse país das bananas que não sabe nem controlar aviões...
Sam Meyer, presidente da divisão nova-iorquina da Allied Pilots Association chega a dizer, antes de informações seguras:
"ninguém vai querer ir para um lugar onde, após sofrer um acidente, você pode ir parar na cadeia e alguém jogar a chave fora''
Apesar da Aeronáutica afirmar que não há zonas sem controle ou "de sombra"na área, o repórter preconceituoso diz:
"Não sei se os pilotos tiveram alguma culpa", acrescentou o repórter. "Talvez a culpa seja do sistema de controle de tráfego aéreo deficiente sobre a Amazônia, que é um fato bem conhecido na aviação."
E deputados americanos preoscupados se um cidadão norte-americano vai responder pelos seus atos.A discussão é antiga e diz respeito a um tribunal internacional.
Que patriotada!
O presidente da ANAC disse ser "insana" esse tipo de afirmação...
Sorte que: "a Fundação Internacional de Segurança de Vôo, com sede nos Estados Unidos, divulgou uma nota em que elogia os métodos de investigação de acidente aéreos do Brasil. Segundo o Jornal Nacional, a nota ressalta a tradição de investigações independentes, sem interferência do governo".
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1178707-EI7792,00.html
Ainda é cedo para qualquer coisa, mas como todos sabem, os norte-americanos nunca erram...
Crianças selvagens
Um menino, numa propaganda da Renault, pergunta para seu pai sobre os novidades do seu automóvel novo. Quer contar para seu padrasto. A criança deve ter menos de dez anos. Um novo tipo de propaganda selvagem, que tornam explícita a mensagem da propaganda "se você não comprar não será alguém", anda envolvendo crianças que falam como adultos em termos de consumismo. "Você é um zero a esquerda sem um Renault," seria horrível até para um adulto.
Há algum tempo a propaganda do Mac Donalds´s foi desagradával ao fazer uma criança olhar com piedade para seu avô que só brincava de pião, enquanto ele, dava-se a entender, podia ser divertir no parque temático do hamburguer...
Que triste isso de fazer as crianças falarem o texto que os adultos mais fúteis falam. E de colocá-las na situação de quem "mostra quem é" pelo poder do dinheiro.
"Eu vou humilhar o novo esposo de mamãe mostrando que ele não tem essa grana..."
Depois a gente não sabe por que as crianças andam esses tiraninhos...
PS:
3 nov. 06
Apesar de tudo, nada justifica o tom desdenhoso da imprensa norte-americana, estilo "brasileiros são incompetentes!"
ajr
FAB confirma que controle errou no acidente da Gol
ELIANE CANTANHÊDE
Colunista da Folha de S.Paulo
FÁBIO AMATO da Agência Folha, em São José dos Campos
A Aeronáutica confirmou ontem que o controlador da torre de controle de tráfego aéreo de São José dos Campos (SP) autorizou o jato Legacy, que veio a se chocar com o Boeing da Gol, matando 154 pessoas, a voar na altitude errada de 37 mil pés até o aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus. Segundo a Força Aérea, essa autorização está gravada nas fitas da própria torre, que dá o "clearance" (autorização) para a decolagem dos aviões, e não na caixa-preta do Legacy, que era pilotado pelos americanos Joe Lepore e Jan Paladino.(...)
Em entrevista, pela manhã, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, não confirmou nem desmentiu a informação do erro da torre de São José dos Campos, que pode ser um dado fundamental nas investigações e foi publicada ontem pela Folha. Ele observou, porém, que, se houve erro da torre, ele não justificaria, isoladamente, o choque das aeronaves. "O piloto, quando perde a comunicação, deve seguir o plano de vôo." (...)
Para Lepore, não havia motivos para desobedecer a orientação recebida do controle de São José dos Campos. Segundo um piloto aposentado especialista em segurança de vôo, o diálogo revela que o plano de vôo original foi desconsiderado pela autoridade aérea. (...)
quarta-feira, outubro 04, 2006
Isso não tem nada a ver com o Amor.
O Santander, dentro de uma programação do “circuito mundial de cinema de arte”, trouxe Jean-Pierre e Luc Dardenne e Thomas Vinterberg.
É patente a diferença nas abordagens.
Dogma do Amor, (um trocadilho infeliz do título I´s all about love- já que o diretor era um fundadores do manifesto Dogma 95), é, assim como o filme cowboy de Win Wanders, estrela Solitária, algo que fala fala e não se explica. Assim como aquele, a bela direção de arte, a boa câmera, alguns momentos de ator e texto, escondem a falta de assunto e de seriedade.
Fica-se com a impressão de que muitos temas são insinuados, mas nenhum deles debatido: o clima, as corporações, a mercantilização da vida. Parece que os criadores vivem dentro de um mundo fechado, talvez o culto mundo da vanguarda – quem sabe aquele mundo corporativo que parece ser antagônico ao circuito alternativo- onde nada pode ser realmente questionado para não irritar algum patrocinador, político, artista.
Os nova-iorquinos caem pelo chão de ataque do coração, os africanos ficam sem gravidade e voam, neva no verão, mas e daí? A mágica é que não saiamos da sala se tudo isso vai acabar em “ele trabalha de mais e precisamos amar uns aos outros.” É a mesma ética do “viva o momento, ame” de Rent, que pode ser bela até um certo ponto, mas deixa um gostinho de “o amor somente, não vai salvar o mundo, é preciso política, visão global, ação; ‘viva o agora’
O filme de Win Wnders passa a mesma ética pasteurizada. Então é isso, devemos parar de trabalhar e dar valor á família?
Já “A criança” mostra todo um mundo por detrás da trama principal, um mundo de franceses jovens sem emprego, de trabalhos mal pagos e escravizantes (de certa forma o mesmo trabalho enbrutecedor do dogmático, mas muito mais brutal), um mercantilismo cínico mudo, uma redenção natural.
O melhor da visão francesa de mundo: política subliminar, personagens ambíguos, trama escondida, causas e conseqüências e não moral de parque de diversões.
Já “Dogma do Amor” parece o avesso do Dogma 95: uma criação artificial com um enredo artificial, uma espécie de “Mágico de Oz” pseudo-crítico. É a diferença, dizem, de Peraut e dos Grimm: cada ato carrega sua responsabilidade, não é necessário “dogma”.
PS O Filho
Idem idem idem. Maravilhoso. de repente a gente acorda com um cinema onde as pessoas trabalham, fazem barulho, onde nunca se sabe qual reação o personagem pode ter, onde tudo são relações humanas, toda a tensão é jogada naquele tempo infinito em que nada acontece e nada é dito. de uma forma maravilhosa a França (é chauvinista, mas é assim que eu sinto), a frança retoma a sua herança artesanal, de novo, cria corpos com densidade e contexto, nos leva a temer até o último segundo sem nada esclarecer.
Comentário de um espectador ao sair do cine: "foi os seis reais pior gastos da minha vida". Quase levei um susto, eu acabara de pensar exatamente o oposto, quanta ousadia!
Isso, sem querer ser frankfurdiano, me mostra como nosso mundo fez tantas pessoas perderem a capacidade de ler coisas "conotativas", de observar os invisíveis sentimentos.
lembrei de uma professora que dizia que muitos alunos tinham dificuldade em ler Lya Luft, pois não entendiam sua abordagem sobre as pressões sutis da criação germânica.
Não deixa de ser interessante que O Filho cause essa reação, pois, contra muita coisa "pseudo-tudo" que se vê por aí, esse filme francês tem cabeça corpo e membros, e te dirige exatamente - cada cena pode te passar aquele ponto de tensão ótimo, se você ler bem a situação- para o objetivo (talvez com um olhar a mais no último encontro dos protagonistas).
Eu, fiquei tenso até o último minuto.
O Santander, dentro de uma programação do “circuito mundial de cinema de arte”, trouxe Jean-Pierre e Luc Dardenne e Thomas Vinterberg.
É patente a diferença nas abordagens.
Dogma do Amor, (um trocadilho infeliz do título I´s all about love- já que o diretor era um fundadores do manifesto Dogma 95), é, assim como o filme cowboy de Win Wanders, estrela Solitária, algo que fala fala e não se explica. Assim como aquele, a bela direção de arte, a boa câmera, alguns momentos de ator e texto, escondem a falta de assunto e de seriedade.
Fica-se com a impressão de que muitos temas são insinuados, mas nenhum deles debatido: o clima, as corporações, a mercantilização da vida. Parece que os criadores vivem dentro de um mundo fechado, talvez o culto mundo da vanguarda – quem sabe aquele mundo corporativo que parece ser antagônico ao circuito alternativo- onde nada pode ser realmente questionado para não irritar algum patrocinador, político, artista.
Os nova-iorquinos caem pelo chão de ataque do coração, os africanos ficam sem gravidade e voam, neva no verão, mas e daí? A mágica é que não saiamos da sala se tudo isso vai acabar em “ele trabalha de mais e precisamos amar uns aos outros.” É a mesma ética do “viva o momento, ame” de Rent, que pode ser bela até um certo ponto, mas deixa um gostinho de “o amor somente, não vai salvar o mundo, é preciso política, visão global, ação; ‘viva o agora’
O filme de Win Wnders passa a mesma ética pasteurizada. Então é isso, devemos parar de trabalhar e dar valor á família?
Já “A criança” mostra todo um mundo por detrás da trama principal, um mundo de franceses jovens sem emprego, de trabalhos mal pagos e escravizantes (de certa forma o mesmo trabalho enbrutecedor do dogmático, mas muito mais brutal), um mercantilismo cínico mudo, uma redenção natural.
O melhor da visão francesa de mundo: política subliminar, personagens ambíguos, trama escondida, causas e conseqüências e não moral de parque de diversões.
Já “Dogma do Amor” parece o avesso do Dogma 95: uma criação artificial com um enredo artificial, uma espécie de “Mágico de Oz” pseudo-crítico. É a diferença, dizem, de Peraut e dos Grimm: cada ato carrega sua responsabilidade, não é necessário “dogma”.
PS O Filho
Idem idem idem. Maravilhoso. de repente a gente acorda com um cinema onde as pessoas trabalham, fazem barulho, onde nunca se sabe qual reação o personagem pode ter, onde tudo são relações humanas, toda a tensão é jogada naquele tempo infinito em que nada acontece e nada é dito. de uma forma maravilhosa a França (é chauvinista, mas é assim que eu sinto), a frança retoma a sua herança artesanal, de novo, cria corpos com densidade e contexto, nos leva a temer até o último segundo sem nada esclarecer.
Comentário de um espectador ao sair do cine: "foi os seis reais pior gastos da minha vida". Quase levei um susto, eu acabara de pensar exatamente o oposto, quanta ousadia!
Isso, sem querer ser frankfurdiano, me mostra como nosso mundo fez tantas pessoas perderem a capacidade de ler coisas "conotativas", de observar os invisíveis sentimentos.
lembrei de uma professora que dizia que muitos alunos tinham dificuldade em ler Lya Luft, pois não entendiam sua abordagem sobre as pressões sutis da criação germânica.
Não deixa de ser interessante que O Filho cause essa reação, pois, contra muita coisa "pseudo-tudo" que se vê por aí, esse filme francês tem cabeça corpo e membros, e te dirige exatamente - cada cena pode te passar aquele ponto de tensão ótimo, se você ler bem a situação- para o objetivo (talvez com um olhar a mais no último encontro dos protagonistas).
Eu, fiquei tenso até o último minuto.
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