Isso não tem nada a ver com o Amor.
O Santander, dentro de uma programação do “circuito mundial de cinema de arte”, trouxe Jean-Pierre e Luc Dardenne e Thomas Vinterberg.
É patente a diferença nas abordagens.
Dogma do Amor, (um trocadilho infeliz do título I´s all about love- já que o diretor era um fundadores do manifesto Dogma 95), é, assim como o filme cowboy de Win Wanders, estrela Solitária, algo que fala fala e não se explica. Assim como aquele, a bela direção de arte, a boa câmera, alguns momentos de ator e texto, escondem a falta de assunto e de seriedade.
Fica-se com a impressão de que muitos temas são insinuados, mas nenhum deles debatido: o clima, as corporações, a mercantilização da vida. Parece que os criadores vivem dentro de um mundo fechado, talvez o culto mundo da vanguarda – quem sabe aquele mundo corporativo que parece ser antagônico ao circuito alternativo- onde nada pode ser realmente questionado para não irritar algum patrocinador, político, artista.
Os nova-iorquinos caem pelo chão de ataque do coração, os africanos ficam sem gravidade e voam, neva no verão, mas e daí? A mágica é que não saiamos da sala se tudo isso vai acabar em “ele trabalha de mais e precisamos amar uns aos outros.” É a mesma ética do “viva o momento, ame” de Rent, que pode ser bela até um certo ponto, mas deixa um gostinho de “o amor somente, não vai salvar o mundo, é preciso política, visão global, ação; ‘viva o agora’
O filme de Win Wnders passa a mesma ética pasteurizada. Então é isso, devemos parar de trabalhar e dar valor á família?
Já “A criança” mostra todo um mundo por detrás da trama principal, um mundo de franceses jovens sem emprego, de trabalhos mal pagos e escravizantes (de certa forma o mesmo trabalho enbrutecedor do dogmático, mas muito mais brutal), um mercantilismo cínico mudo, uma redenção natural.
O melhor da visão francesa de mundo: política subliminar, personagens ambíguos, trama escondida, causas e conseqüências e não moral de parque de diversões.
Já “Dogma do Amor” parece o avesso do Dogma 95: uma criação artificial com um enredo artificial, uma espécie de “Mágico de Oz” pseudo-crítico. É a diferença, dizem, de Peraut e dos Grimm: cada ato carrega sua responsabilidade, não é necessário “dogma”.
PS O Filho
Idem idem idem. Maravilhoso. de repente a gente acorda com um cinema onde as pessoas trabalham, fazem barulho, onde nunca se sabe qual reação o personagem pode ter, onde tudo são relações humanas, toda a tensão é jogada naquele tempo infinito em que nada acontece e nada é dito. de uma forma maravilhosa a França (é chauvinista, mas é assim que eu sinto), a frança retoma a sua herança artesanal, de novo, cria corpos com densidade e contexto, nos leva a temer até o último segundo sem nada esclarecer.
Comentário de um espectador ao sair do cine: "foi os seis reais pior gastos da minha vida". Quase levei um susto, eu acabara de pensar exatamente o oposto, quanta ousadia!
Isso, sem querer ser frankfurdiano, me mostra como nosso mundo fez tantas pessoas perderem a capacidade de ler coisas "conotativas", de observar os invisíveis sentimentos.
lembrei de uma professora que dizia que muitos alunos tinham dificuldade em ler Lya Luft, pois não entendiam sua abordagem sobre as pressões sutis da criação germânica.
Não deixa de ser interessante que O Filho cause essa reação, pois, contra muita coisa "pseudo-tudo" que se vê por aí, esse filme francês tem cabeça corpo e membros, e te dirige exatamente - cada cena pode te passar aquele ponto de tensão ótimo, se você ler bem a situação- para o objetivo (talvez com um olhar a mais no último encontro dos protagonistas).
Eu, fiquei tenso até o último minuto.
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