Memórias do mundo intermediário (entre a Novela e a favela)
Fiquei chocado ontem, ao ver Casseta e Planeta. A Folha havia comentado que a tendência seria perder o humor, perdendo Bussunda. Achei forçado, na época.
Mas convenhamos: primeira piada- o Lula de pé enfaixado com a faixa presidencial, perguntando se a faixa vai ficar com chulé; depois carros, barulho e um cara que diz fazer jardinagem como terapia, fala no divã com girassóis (está bem mais engraçado nesta linha); um campeonato de “adolescentes” baderneiros que cantavam “daqui para o Carandirú...” e por aí vai... Ah, teve também a que dizia que o sózia de Lula não teve permissão de pousar por causa dos controladores de vôo...
Piada sobre o Lula ainda, que saco! A Marinete também achou muito engraçado um monte de carne que cai no chão, “é cordeiro ao chão”. Huahaha.
Conversa simplificada, para o povo entender, claro. Meios de Comércio Social. Mas não exagerem...
(Povo, que povo? Fazendo como cidadão comum uma carteira de identidade descobri que se leva uma hora na fila; tem um cartaz que diz: "Para ser isento de taxa tem de comprovar renda de menos de 400 reais, não ter dinheiro na hora não significa ser carente". Como é? Para ser carente têm de estar de carteira assinada?)
Hoje, no Correio, uma senhora na minha frente dizia: “Quero zento”.“O que?”, perguntou a funcionaria. “Zento” “Ah, declaração de isento.”
A moça disse que seu nome no CPF não correspondia ao seu nome na identidade, era preciso ir na Receita Federal, ela saiu dizendo "eu lhe digo que tenho CPF desde antes de meu marido falecer, ora essa, não tenho CPF..."
Depois a moça comentou como é difícil lidar com as pessoas, “Eu não sabia que o povão era assim, levei um susto, esse é o mundo em que eu vivo? Eles não entendem que CNPJ e CPF é diferente, ou que Isento é diferente de Imposto de Renda. Era para ser algo simples, mas leva meia hora.”
Uma amiga minha, professora do Estado do RS, comenta que há quatro meses não recebe... Salário? Por que?
Conversa simplificada, formação simplificada, conversa simplificada.Vejo na TV:
“De acordo com a pesquisa da Universidade das Nações Unidas, Roger e Amanda – com um patrimônio de mais de US$ 500 mil – fazem parte dos 2% mais ricos do planeta. São pessoas que detêm mais de 50% da riqueza que está nas mãos das famílias”.
http://jg.globo.com/JGlobo/0,19125,VTJ0-2742-20061205-255759,00.html
Estamos fadados a viver entre uma aristocracia universitária, com suas fórmulas abstratas herdadas da tradição e incapaz de resolver coisas simples, com idéias simples e uma incapacidade brutal dos herdeiros da invasão de partilhar a cultura dos centros de poder e informação e de criar a sua própria?
Lembro que ao ver um filme francês absolutamente subjetivo, silencioso, “O Filho”, um cara disse na saída do cinema: “Foram os seis reais pior gastos em toda minha vida”.
ajr
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