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quarta-feira, abril 11, 2007

Orgia, coro e populismo...

Revendo um ótimo site com entrevistas sobre teatro,
http://www.teatrobrasileiro.com.br/
deparei com a explosão do Zé Celso.

Uma pessoa totalmente consciente, percebendo tudo, o tempo todo.
Na entrevista ele fala da época da ditadura, de como criou suas peças, mostrando por que é tido como um revolucionário que fez Artaud e Brecht cantarem o tropicalismo. Quando ele detona a elite industrial e intelectual de São Paulo, "não estávamos educando o povo...", me lembrei do meu amigo inglês que acha os brasileiros pedantes e questiona afinal porque a USP é tão francesa e a Bienal by "Internacional"...

Dá o que pensar pensar que hoje quase ninguém tem coragem...
Há um mundo de cópias, cópias de cópias, e uma linguagem pessoal é raro...
Como diz um amigo meu, você vai ao teatro e vê o estilo Antunes, Zé Celso, Terreira, Butoh...
Não deu pra não copiar alguns trechos:

****


Folha - Exceto pelas drogas, os tabus contra os quais seu teatro se insurgiu foram destruídos. A família patriarcal não existe mais, a repressão sexual é tênue, o capitalismo é quase consenso. Você não vê o risco de estar arrombando portas abertas e, por outro lado, estar dando murro em ponta de faca?
Zé Celso - Não estão abertas. Eu sinto uma censura enorme.

Folha - Pelo lado econômico. Mas que censura moral existe?

Zé Celso - Mas é evidente. Nenhum banco vai financiar uma peça em que uma pessoa do público é ''estraçalhada''. Não faz.

Folha - Mas por razões muito mais econômicas do que morais.

Zé Celso - Não, imagina. Por que financia uma peça qualquer? A peça não existe, passa. Vai ficar a marca do banco. O importante é a marca, e a marca está ancorada numa visão tradicional. Existe uma censura nítida. ''Não, não condiz com a imagem da nossa empresa.'' E a imagem da empresa condiz com alguma coisa. Com uma noção de Deus, de bem, de ordem. E as pessoas colocadas, empregadas, numa sociedade em crise social como esta, é evidente que farão tudo para se manter. E isso implica acreditar que é eterna esta situação. E não é eterna.


Jornal: Folha de São Paulo. Domingo, 31 de agosto de 1997.
Cadernos: Mais! Pág. 5-4, 5-5, 5-6, 5-7 e 5-8.
Entrevista Concedida para Nelson de Sá e Otávio Frias Filho.

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