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quarta-feira, maio 02, 2007

Vamos matar Vinícius

Não sou um grande fã de Gal Costa, mas ela brilhou no especial Som Brasil Vinícius, uma pérola do bom mocismo que a Globo Apresentou em um horário de alta madrugada, depois de uma semana com divulgação maciça. depois de tanto anúncio, pensamos que podia abrir uma porta na programação de Ibope para algo de qualidade. Não mesmo.

Arriscar é coisa do passado. Fomos presenteados com Chico Pinheiro, um belo rapaz que deve ser apenas muito tímido, mas contou mornamente dois atos e, no terceiro, pareceu se comover, mas quase nada se ouviu. "Desafinado", se isso significou voz de sussurro amoroso, é pouco. Sua camisa punk-fina era o símbolo de tudo que foi esse show: um alternativo minguado.

Cris Delano e o grupo BossaCucaNova ou algo assim, apresentaram uma roupagem toda moderninha, que parecia pronta para empolgar, mas então ela soltou meia dúzia de "tik-tim-tá" e ponto. Parece que faltou mesmo aquecimento para todos, e só implacou também na terceira música, para dizer apenas "she doesn´t see" meia dúzia de vezes, com um Eddy Motta salvador da noite, sendo ele mesmo de novo, pelo menos original. Era “alternativo”, mas faz muito tempo.
A tal Tatiana Parra fez uma pequena apresentação, mas estava ótima. Algo aconteceu com essa nova geração, talvez seja Xuxa demais ou Mortal Kombat. Estão todos mortos.

Mas aí alguém lembrou que chamar a favela é sempre legal, e colocaram lá um grupo formado pelo bonito Terra Negra, o animado Pael da Rima e Criolo Doido, ou algo parecido. A roupagem rap funcionou bem quando cantaram Vinícius, só que de repente alguém puxava um "as pessoa não se falam/ e dizem que/ nem Cristo agradou/ todo mundo (mano!)/ saca só a rima/ você acha mesmo que é igual ao Salvador?" Bizzarro. (A graça da noite ficou com uma frase auto-irônica do Doido alguma coisa: "Só a arte pra me fazer vir aqui".)

Teve mais alguém? Ah, o filho do Baden Powell, ele também um belo e talentoso jovem. E foi isso.Ficamos com a voz sempre sempre Gal, só que com uma verdade que faltou no resto. Tristezinha verdadeira para dizer: "eu ameeei."

Por um lado, somos como que "educados" a gostar desse "gênio da nossa música", por outro a esterilizarão do "bom gosto" urbano nos dá a sensação de deja vú, de "de novo Vinícius?"
Até o cenário era dessa gélida modernice: raios que lembravam violão (raios!) e uma luz ambiente"lounge".
Muito chic, como os vestidinhos de estampa de vovó das gurias backing-vocal-almost-famous de Pinheiro.

Sem falar de uma Patrícia Pillar, claro, em panos coloridos, apresentando o non sense de "hoje temos Gal Costa" : "trizteeeeza não tem fiiiiinnnn", "rap" :"aí galera, o morro não tem vez!", "e Bossa NovaCuca": "pa-ra-ra-rááá!!!", "e como eu ia dizendo"....
Ficamos com a impressão de que nada de novo e autêntico se faz no Brasil, ou que não chega na TV, só o que é novo e (e fica) velho. Pelo contrário, um politicamente correto desagradável e comestível.

Algo como o "Novo Festival Brasileiro" de uns anos atrás que só tinha baião, rap e um cafona-MuitoProdutorBrasil. Festa estranha, com gente esquisita. Talvez seja a coisa paulista de ir sempre na mesma cidade e nos mesmos lugares, ou a nobreza carioca do "Tijuca music circus".

Lembrou um pouco o fato de não ter aparecido a morte de Elis no super super especial especial "Elis, a super rainha do rock", segundo o produtor porque "todo mundo já sabia dessa história desagradável", parecendo, entretanto, que estrela morrendo de overdose era "real" demais para os novos "deuses" e o público "médio". Será?

Respeito demais dá nisso.
A arte só vive de ressurreição, é sempre um “em potência”. O poetinha também é um gênio “em potência”. Infelizmente, Vinícius permaneceu bem morto.

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