Verde
Como eu fiquei nessa situação?
Onde está o inferno, o veneno, a chama?
Olha, eu vim do interior, que lá a coisa tá feia.
Não existe o inferno e por isso também não há a paz
Passar fome na capital é outra coisa!
A alucinação é o pão nosso, eu derramei-me
Eu tenho dormido embaixo da entrada da Assembléia, não dizem que é a casa do povo?
O inverno o conforto
O guardinha sempre deixa eu ficar ali.
O barco bêbado
Devo dormir antes do último jornal
É um vão de verde onde canta o riacho
Descia rios impossíveis
Dormir não que o que a gente faz é ficar abraçando as coisinhas da gente
Não me sentia mais guiado
Daí de dia a gente fica nas Bibliotecas dormindo em cima de Machado
Muita gente diz que dá sono mesmo os peles-vermelhas
Lhes tomaram por alvo
Ah, quando eu vim pra cá eu tinha emprego sim
Pregando-os nus aos postes coloridos.
Eu era auxiliar de serviços gerais numa escola. Eu dormia lá.
Eu era inconsciente de todas as cargas levando
Ai a diretora me chamou disse: “temos de cortar custossss”.
“Custossssss!” Era eu!
O trigo flamengo ou o algodão inglês
Quando meus guias acabaram seu tumulto
Os rios me deixaram ir aonde eu queria
Que fosse gente, eu pensei, descobri que era
No burburinho furioso das marés
Nada
Aí comecei a viver nas ruas, eu e minha mochila. Eu corria!
Eu, o outro inverno, mais surdo que os cérebros de crianças,
Ah, de noite vem aquelas vans, e dão massa em copinho de caixa de leite.
E as penínsulas sem amarras outro inverno
Ou é massa ou é sopa! Argh! Será que aquilo é limpo?
Não tiveram clamores um dia
Eu levei a mão - e uma dona disse
Você? Mas você tem olho azul!
Aí eu: olho azul não enche barriga dona
Verde de fome gente rica é burra?
É um vão de verde onde canta o riacho
Como a gente toma banho?
Perdido, um buraco onde os raios caem
Ah, tem uma fábrica que domingo fica só com o segurança
Como sorri no sono um menino
Ele deixa a gente encher três baldes de água e a gente toma banho de calção na calçada
Dorme na relva a mão no peito
De calçããããão! Que nem no Big Brother
No lado direito
Sexo? É difícil... é mais companheirismo, a gente se dá a mão, essas coisas.
Dois furos no peito.
Afonso Jr. Lima/ Rambô
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