No século XVIII, Johann Joachim Winckelmann: Filho de um sapateiro, de uma tecelã, eis-me aqui em Roma descobrindo a sublime ordem da sublime razão. O amarelo e sangue das estátuas eu apago. O azul brilhante dos templos me ofende. Nem batalhas, nem deuses furiosos, nem a correnteza do tempo e o abraço dos opostos. Nobre simplicidade, calma grandeza. A realidade podia ser sempre descoberta e em transformação, quero a imutabilidade imperecível, comando do corpo, a certeza. Somos modernos porque existe uma linha. Frinéia, amante de Praxíteles, que desfilou nua diante da cidade no festival de Posídon, sua oficina suja de piche, pregos e argamassa não falam do Um Deus, Um Rei, Um Verbo. O banquete festivo dos jovens, os corpos sujos no lago, o laranja, o violeta, o púrpura não são puros heróis e pastores da vaporosa Arcádia. Somos diferentes e nossas raízes estão aos pés de Tróia, as contradições da verdade nos ofendem. Ele partiu e eu fiquei aqui com sua pureza para sempre. Eles ensinavam através do amor. Sócrates deitou-se ao lado de Alcibíades inocente. O mármore branco eu busco no passado. Eu crio um passado, tempo imaginário. Nosso pensamento e nosso corpo divergem, a filosofia nossa não é mundo, caminho de si, mudança da alma. O interior nos protege. Somos os homens científicos. Para nós, a serenidade como projeto. Enquanto o mundo vive entre o caos e o fixo, eu sou o deus do cálculo, a dança, o falo, o ritual filosófico deixo nas sombras. O paganismo é material e exterior, nós somos jovens, nossa religião é a da vida imortal. Na cama de um hotel, em viagem, fui morto pelas medalhas de ouro dadas pela rainha, pelas mãos de um ladrão de estrada. "Os homens eram livres para pensar e seu discurso sobreviveu à decadência do mundo".
Afonso Lima
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