Ela viajara com os dois irmãos, a irmã V. e os amigos à essa região anos antes. Parecia o Paraíso. Londres, com suas festas, convenções e conversas autocomplacentes, gerava ondas de ansiedade em sua natureza sensível. Desejaria ter feito picnics na grama, à beira do Partenon, mas os homens estavam apressados em percorrer todos os passos de todos os heróis. Conheceram mosteiros e fontes sagradas esquecidas. Foram cortejadas por soldados, eruditos peregrinos e pescadores. Uma expedição. Pontuada de dores. Sua irmã teve uma estranha febre e foi obrigada a voltar para casa. Seu irmão contraiu uma doença e morreu três meses depois. Agora, voltavam todas essas coisas, quando o vento batia e ela via uma faixa azul de oceano escuro e ilhas de pedra. A luz do céu parecia apagar o cansaço. Ela tinha a deliciosa sensação de dissolver as barreiras que o eu quer criar em torno de si. Tentando ler, lembrava do amigo falecido, sua fome de conhecer tudo. À noite, Bach no altofalante.
Quando voltaram, depois da morte do irmão, V. se casou com seu melhor amigo e conheceu a psicanálise, tentando esclarecer seu misterioso ataque. Agora, os amigos falavam sem parar, enciclopédicos, pintavam cada paisagem que achavam, e ela tentava retomar os fatos passados, tentando unir em si tudo que era contraditório e sofrido. Planejava um novo livro observando as ondas. Escreve em seu diário: "Como pode as coisas seguirem assim sem você. Nós conversávamos um dia entre as fileiras de hortências azuis e você me disse a verdade sobre mim mesma, que eu devia recusar tudo, menos o que eu queria. E agora você não lerá mais nada e eu não sei o que fazer com isso".
Afonso Lima
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