A colonização de Marte foi um fracasso. Os homens e mulheres levados para lá foram, depois de uma década, explorados como escravos pelas Concessionárias: preços altos para importações, instalações sofríveis, jornadas de trabalho excessivas, e, logo, esforço braças desumano, punições cruéis. As crianças passaram a trabalhar das sete da manhã até às cinco da tarde logo depois que foram liberadas da escola, cujos custos foram considerados impossíveis pelo Parlamento. A chamada Revolta dos Meninos explodiu duas semanas depois.
Muitas famílias, condenadas à miséria devido à crise econômica, abandonaram seus filhos e formaram-se hordas de jovens que circulavam pelas grandes cidades e viviam de crimes ou amontoavam-se em condições de imundície dos becos da capital. 832-NL perdeu o pai em um beco de Niobe K12 muito cedo e passou a trabalhar nas fábricas de extração aos 12 anos. Ele e 945-MN fumavam juntos depois do trabalho, caminhavam pelas margens do rio, descobriam sua sexualidade e assistiram os Circos de Horrores na periferia da cidade com as multidões de curiosos. Mas 945-MN foi demitido por ter dormido no trabalho, depois de uma semana em que não tiraram folga. Adoeceu e acabou morrendo em decorrência da subnutrição.
832-NL reuniu um grupo de quinze garotos em sua casa (viviam em grupos de até vinte jovens em quartos coletivos nos becos) e planejaram incendiar os carros dos principais gerentes da fábrica. O tumulto tomou conta da fábrica, espalhou-se pela cidade, casas de políticos foram apedrejadas, um vereador teve seu carro cercado e escapou por pouco do linchamento, policiais usaram gás venenoso, e mais de cem corpos foram retirados das ruas. 832-NL foi enforcado em praça pública e seu cadáver foi decaptado. Um jornalista da Terra estava de passagem pelo planeta e acabou publicando as fotos, fazendo com que um parlamentar questionasse o Ministro das Colônias. Uma investigação foi aberta e o contrato com a Concessionária foi rompido. Escolas tornaram-se obrigatórias em todas as cidades marcianas. Ao mesmo tempo, leis mais duras contra atos de vandalismo foram criadas, incluindo pena de morte, e os grupos terroristas, aqui tratados, passaram a agir.
Afonso Lima
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