Também em meu tempo cartas
Vem ossudo vento oeste
Anjos de chuva e trovão
malandro cosmopolita
consciente, independente
letrado sem preconceito
de não ter jeito
cavaleiro solitário na terra antiga
a pedra do rei com o rei na barriga
vasta areia e cabeça quebrada
canta a cantiga, ao redor, o nada
triste jeito
o bando do seu joão
gente nem é propriedade
gente irregular
se matam sem explicação
minha avó costureira
minha mãe engenheira
eu estrangeiro
eu sou um astro acelerado
eu não vou ao supermercado
algo está errado
política do baseado
meu terno apertado
ouvindo pesado
a grama domingo
estou perdido
malandro cosmopolita
roda mas não cai
homem negro super carro
homem negro vende água
o ladrão pegou
a polícia matou
casa não
teto não
Chanel quebrada
rum com coca-cola
consertar a madrugada
está tudo confuso
se os prédios fossem felizes em vidro
por que expor imagens fluídas?
duas taças
quem sabe o amanhã?
gente pode viver no chão
cantando na chuva
gente impensável
nasce
em meu tempo
ossudo vento
anjos de raio e trovão
a gente rega a planta
a gente viu coutinho
a gente fala de carinho
o traficante atirou
a cola pegou
superfície plana
acelero reto
meu vento
o futuro já passou
sou bacana
um ano até a consulta
morreu com 19 anos
na favela, por engano
luta pelo perigo
profeta do já sabido
desculpe drummond
mas não dá
a noite a rua
a hora melancólica?
desumana
sob a cidade existe grama
puras águas sob o asfalto
redes de insetos
as tempestades
as pontes caídas
apagando homens cinzentos
cavaleiro solitário balada antiga
a lei comprada o rei na barriga
pedaços de pop na luz escondida
canta a cantiga, ao redor, o nada
Afonso Lima
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