Portanto, se Plínio Marcos sobreviveu é porque mostra uma realidade selvagem, tem personagens incríveis, conflitos intensos e (apesar de limitações como a repetição de falas a que a unidade de tempo leva) só precisa de uma direção boa o bastante. Pois é.
A direção é de Tanah Corrêa. O cenário é de uma pobreza assustadora: estantes de compensado das Casas Bahia, paredes de madeira rosinha-claro mal pintadas, uma poltrona vermelha, e tudo isso sem um pingo de ironia, distanciamento, ou seja o que for. Não passa a ameaça que poderia passar, nem a miséria, mas o caricato, sendo um quadro na parede a reprodução mais fiel de um clichê de "arte". Assim, o figurino não transforma esteticamente a pobreza, mas repete a novela, para horror de quem pode ver. Assim, a atriz principal imediatamente causa surpresa por ser uma senhora gordinha, sendo que a personagem é prostituta. Logo entendo a metáfora: ela é uma sósia da presidenta, e chama-se Dilma. Uma pegadinha, ha. Mas sua atuação é exagerada, inacreditável. Com seu segundo figurino ridículo (verde oncinha brilhoso), num cenário cafona, vira um todo Zorra Total. Só supera sua companheira de cena, a bêbada mais caricata que São Paulo já viu. Então entra uma atriz magérrima, boa, mas quase sem voz. Depois, quando Dilma é torturada, a platéia cai na risada quando dizem: "Bate na Dilma, a culpa é da Dilma" ou equivalente.
Com a plateia às gargalhadas, parece involuntário uma certa empatia pela Dilma quando ela por fim desmaia. O que se pode salvar aqui é o texto. E a atuação engraçada de Nuno Leal Maia, vejam só. Será que os diretores não precisam sonhar que o realismo real já morreu? Assim como a pessoa que odeia a violência na arte porque "é ruim" ou não quer que os gays casem porque "não é natural", estão no convervadorismo de que o que é literal não é ficcional. Como homenagear Plínio assim? Retrato de um Brasil mal educado, que, como Bolsonaro, acha graça do que não gosta e quer que a presidenta saia por "doença ou coisa pior".
Afonso Lima
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