Seu Juarez era um grande contador de histórias. Sua esposa, Isadora, fizera uma lasanha. Eu dormi antes de todos.
Levantei da minha cama e vi a lua cheia. Parecia que a água estava mais próxima da casa. Caminhei até a varanda da casa e a água a envolvia. O que estava acontecendo?
Sacudi meu pai, que não acordou. Minha mãe também não.
Fiquei na porta observando o mar subir.
Acho que adormeci. Sonhei com prédios que pareciam estar em outra dimensão, coloridos. Eu voava entre eles. Alguém me acordou. Era um vulto que parecia ter saído da água. Dei um grito.
O vulto me mostrou um barco, no qual estava o cadáver do Seu Juarez. Eu fiquei perplexo.
- O que aconteceu?
Não obtive resposta. Fomos navegando em direção a uma sombra que se revelou uma ilha.
Na praia, diversos esqueletos e um som fazia zumbir a noite - só depois percebi que o som vinha desses ossos. Pareciam cantar músicas tristes.
Meu amigo silencioso foi me guiando pela mão para dentro de uma casa de pedra no alto. A lua iluminava as rosas que cresciam no muro.
- Você está vendo que isso não é um sonho. É o lugar para onde vão os que desaparecem - disse por fim meu amigo.
A casa era coberta de quadros, espelhos e estátuas de mármore. Eu entrei na biblioteca. Livros escritos em diversas línguas. Pintados em folhas escuras, um animal semelhante ao leopardo, um peixe monstruoso e uma ave de fogo. Um soneto chamado "A Casa"- "Nessa casa ninguém te responde / e todos dormem para sempre". Depois, percebi um desenho no qual aparecia um menino como eu mesmo - e tentei observar seus caminhos complexos.
De repente, um grito - é minha mãe chamando por mim. Observo no espelho ela tentando me acordar. Tento ir em sua direção e meu amigo estranho me segura.
Consigo me soltar.
Minha mãe me abraça. Faz meu pai partir antes do sol nascer totalmente.
Nunca mais voltamos à casa dos nossos amigos, e Seu Juarez faleceu dias depois.
Afonso Lima
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