- Aqui, no meu elemento
floresta ao lado do rio do inferno
chamo o Anjo primogênito
príncipe dos imortais das sombras
para a vingança contra o Deus inimigo
sou um polvo adolescente e por mais de duas décadas tenho ouvido
seus lamentos fúnebres, o fel de sua bondade e sua filosofia da inércia
podia ir rio adentro, mas não antes de tornar-me
o Conde do Outro Mundo
carne macia, bico afiado
eles prenderam meu corpo entre barras de ferro
animal selvagem com sangue quente
tudo que eu amei foi envolto em mortalhas de medo
minha consciência gótica que vê como
covardia a razão das chaminés e os acordos do patriarca
o filósofo republicano, o pedagogo eloquente ganhando medalhas da burguesia
política de homens gordos, república contra o homem que opera a máquina
eu, nascido na relativa liberdade e humilhação das colônias
tive de aspirar o ar mofado da metrópole
meu corpo infestado de doenças da moral
o outro mundo que eu vejo e canto
não tem objeto, conceito ou método
a natureza é viva e cresce em mistério
e o coração dos homens é um abismo
a física não explica o caos do fogo do espírito
nem o século XVI é sistema para as teias da aranha
que eu seja o demônio a tirar de formação os bons soldados da nova geração
sonhos absurdos e ciências sem utilidade os perturbe
que eles corram de pavor quando a morte soar seu corno
meus cantos sejam o portal para a confusão de novos dias
eu ofereço meu corpo pela teologia da loucura
eu quero destruir rei, confessores e meu eu
minhas garras e asas de morcego
eu quero tua tocha escura e veneno em meus tentáculos
para matar os herdeiros dos sifilíticos nobres gloriosos
vingança pela guerra contra o herói pálido de nossa era assassina
Pai terrível, entrego-te minha vida.
Na floresta, um animal surge.
Afonso Lima
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