A lenda diz que na biblioteca está tudo que já existiu, mas também tudo que vai existir. Quando perguntei para meu mestre, ele disse: "As moléculas sabem o futuro". Era uma citação de um personagem cientista em "A história da Ilha", de M. Issaiévich.
A mim foi dada a sessão da História. Minha mãe era estudiosa e conservadora de autores russos. Havia crescido nos Livros, entre o Imperialismo e a Ásia.
Quando comecei a ler, minha história preferida era justamente "A história da Ilha".
Neste conto, um grupo de homens parte para colonizar uma terra à oeste e levar a "civilização" aos que chamam de sub-humanos ou bárbaros. Suas mulheres são controladas para a reprodução e costumam ter filhos todos os anos - uma personagem tem 12 filhos em 12 anos e se suicida. A sociedade existente anteriormente acaba sendo apagada, os colonos são os únicos que podem comprar os produtos que produzem. Mas isso gera um medo constante sobre o que existiria fora da muralha. Por fim, uma estranha doença começa a acometer as crianças do lugar, que se tornam como que sonâmbulas, e acabam dormindo para nunca mais acordar. O cientista tenta, inutilmente, achar a causa e, por fim, começa a estudar as lendas e os sonhos dos "bárbaros". Descobre que neles havia a crença de que, paralelo ao nosso tempo linear ou aparente, existe um outro tempo, no qual tudo se encontra. Assim, ele suspeita que as crianças estão tristes porque seu corpo sabe de algo que ocorrerá no futuro aparente.
Esse conto assustador me fascinava e eu desenhei muitas folhas ilustrando essa sociedade.
O que me fazia desde cedo pensar sobre a minha própria, por que acabamos vivendo na biblioteca, se existiriam humanos lá fora ainda e se existia algum lá fora, por que existia a máxima gravada na pedra: "A Salvação está contida nos Livros".
Afonso Junior Ferreira de Lima
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