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quarta-feira, agosto 30, 2017

O mundo

Ele já havia nascido sob o regime de segregação. Para eles, o medo era tudo. A lei do sangue. Mas ele a conheceu na rede. Uma perversa.
Lua falava de astrologia, tarot, mitologia e livros de fantasia.
"O Juiz estava furioso porque um promotor havia sido metralhado na rua. Alguém precisava pagar. Jesus foi condenado porque descobriu um pergaminho, a Sociedade o incriminou" - assim começava um post enigmático. Um exercício de imaginação, ela contou.
Jesus era o nome de seu irmão, condenado por não devolver um livro na biblioteca.
- Você não tem medo de nós - ela disse sorrindo para a câmara.
- Eu não acho que vocês sejam por natureza maus - ele disse a Lua. Eu suspeito que
isso tudo foi criado para que aceitemos o inferno. Para que alguém acumule ouro.
- Nem sempre foi assim. Quando eu era criança, nós não tínhamos tanques em frente à nossas casas. Nem havia militares dando aula nas escolas. Não havia tantos desaparecidos. Não se sabia de mulheres violadas dentro de casas invadidas.
- Podíamos nos conhecer - seus olhos cintilavam de desejo juvenil.
- Nem pense nisso. Sua família jamais iria aceitar. A Sociedade criou um sistema em que ninguém é culpado. As ordens devem ser cumpridas. E os livros dizem que, para nós, as leis são outras, não há direitos para os "perversos".
Ela abriu as cartas. Antes, ela já sabia o que seria. La Maison Dieu. 
- Plutarco também via o raio como gerador da vida. Aqui, tudo desaba.
Ele pensou no mundo que conhecemos como ilusão, ele precisava destruir.

Afonso Junior Ferreira de Lima

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