Observa os corpos miseráveis no chão. Caminha sobre o rio podre.
Ele ouve as últimas notícias. Mais um líder popular preso. Os herdeiros têm de defender seus privilégios, justiça seria algo muito bizarro mesmo...
A sensação de que a realidade não existe.
Observa a água que não corre, o lixo, as árvores secas ao lado das margens, o fluxo que aumentou na chuva.
Um golpe publicitário, as máquinas de comunicação como ovo da ditadura nos lares, rede de TV usando o povo como hospedeiro. Os melhores pais de família com ódio no sangue. Um famoso jornalista recebe um líder fascista para debate, uma convidada se levanta e sai.
O "líder" é um golpe de marketing para espalhar o medo do comunismo entre jovens confusos e envenenados pela mídia aristocrática. Sua fala é slogans publicitários, misturando "esquerdismo" e "minorias", chamando feministas de "histéricas". Discurso doutrinador para proteger nobreza, dentro do plano de prender lideranças progressistas e assaltar o Estado com privatizações.
E vamos colocar Hitler e Roosevelt para debater. Mas talvez seja o dono da rádio que manda...
Chega no pátio da empresa, está muito cedo. Tenta responder mensagens.
Ontem, na sala, arte digital com esgoto por onde saem notas de dinheiro. Falas no tribunal.
Ele também foi obrigado a ver.
Os humanos imóveis na frente de uma máquina que aplica sua lógica implacável. Não houve dinheiro mas houve lavagem de dinheiro.
Vê uma gigantesca rede de comunicação atacando uma pessoa.
Uma enorme construção retórica para ligar coisas sem ligação. Juízes como atores no teatro da injustiça.
As imagens se movem, os olhos perplexos, não se pode falar enquanto os raios atingem o cérebro, pressa em criminalizar as reformas pela justiça social, opiniões valem como lei.
Magia, arte degenerada. A lei funciona como mecanismo de tortura.
"O juiz mostrou seu partidarismo em várias ocasiões", lê num site estrangeiro.
Mas são milhões de pessoas para quem o inocente é um gênio do mal, "condenado por lavagem de dinheiro", o judiciário é isento e correto.
A porta se abre. Cumprimentando seus colegas com um "bom dia", mais uma vez, pensa que o sono, a realidade das aparências, o hábito sombrio, caíram como um véu sobre a cidade, o real não existe.
Afonso Junior Ferreira de Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário