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quinta-feira, abril 18, 2019

Duas torres inacabadas

Se o leitor assim consentir, tentaremos descobrir por intermédio do pensamento a sensação de descobrir, na velha biblioteca, a pintura colorida e delicada. Os mantos azuis, vermelhos e dourados estão em frente ao belo rio, o burgo ao longe. Mas o que mais chama a atenção são as duas torres inacabadas. 
Marchava o começo do século XIX. Tudo desabava, enfim, a monarquia absoluta de direito divino. O casamento exigia dinheiro, não bastava mais um banco de pedra - travesseiro para poetas ou mendigos. Sir Walter Scott havia feito dinheiro. "I never finished anything, everything always stays undone forever." O grotesco belo, como a natureza.  
Aqui entram os outros mundos. O mundo acordava do sono tumultuado. Talvez esses senhores de mantos coloridos estejam observando algo novo. Um estrangeiro? 
Seriam missas para salvar as almas do Purgatório, com as orações de São Gregório? Já fora o tempo em que Abraão disse ao rico no inferno: "Há um abismo entre nós". É no Corpo de Cristo que se reúnem vivos e mortos. 
A catedral estava em ruínas. Quando passava na praça Gréve, seu coração apertava com a torre sufocada graças à modernidade que devorava rapidamente as velhas fachadas de Paris. Ele queria ser parte ativa da sociedade, o poema. Agora é o Purgatório, no qual a Dama se purifica em chamas e água. Ela observou a história, e joga no nosso rosto suas lembranças. 
Esses desenhos ficaram empilhados na bibliotecas por séculos. Do norte, a natureza, do sul, a distância. Renovação que não era vista no mundo que mirava os gregos para chegar no futuro. 
Mas agora, o escritor sabia que tudo era inacabado. O perigo do mito da ciência. Como o passado nos acorda do sonho do eu. O herói pode mobilizar mundos, passar sua força ao jovem perdido, mas o adulto precisa conhecer os símbolos que nos unem, o que nos faz preservar a vida coletiva, instinto de sobrevivência. O real também é construído.
A vida depende da criação. Sahrazad recolheu e contou tudo que ouviu. O escritor molha a pena: "O inimigo principal do poder absoluto é a memória". 

Afonso Junior Ferreira de Lima

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