as pessoas que eu conheço não são tropicais
respiram metal lutam minutos pisam o lixo
as pessoas que eu conheço são desnecessárias
ou vivem sem sol, escrevem paisagens desertas
caminham com dificuldade, correm
lhes assusta o calor, as palavras coloridas
lhes acalma a noite fria e os animais que sugam
os homens que eu conheço conhecem tudo, pós-apocalípticos
ou não podem criar, criar é não saber
os homens primordiais faziam imagens com as mãos e imaginavam palavras
os homens que eu conheço odeiam a luz do dia
ou seu tom é de névoa, árvore cinzenta, caminho branco
lhes ensinaram coisas demais, não podem pensar
(eu mesmo hesito) e sua cultura não gosta da vida
são trabalhadores sem alegria, matemáticos da política
não precisam de amigos, lhes enoja a matéria viva
um minuto de paz eles têm na lua plena
quando o pássaro negro se oculta no risco seco
um minuto de paz quando lembram do passado
mas não lembram muito agora
Afonso Junior Ferreira de Lima
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