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sábado, novembro 30, 2019

Cruzadas

A sala de colunas torcidas, piso branco, remetendo aos 1900, fazia o homem parecer num outro mundo.
- Eu tentei muito, tentei com uma ferrovia, tentei com uma fábrica de charutos. Você tem de entender que as pessoas não gostam ou não entendem, dizia o homem de terno branco.
Seu gato cinzento tinha olhos amarelos.

Ninguém entendia por que a cidade se levantara para cercar um grupo de casas de imigrantes. A polícia registrara agressões físicas, ameaças e até morte de animais.
Um jovem fora preso acusado de estupro.
As entrevistas deixaram Momai impressionado: eram mulheres que tinham filhos com demônios, crianças paranormais, cães demoníacos, rituais satânicos...
O mais estranho é que a comunidade nunca fora particularmente religiosa e suas origens estavam numa mescla bastante heterogênea de crenças que viveram em harmonia por séculos.
Reuniam-se com suas tochas à noite ao redor da comunidade isolada no extremo da cidade. Ali cantavam hinos e atiravam para cima.
Um jovem disse a Momai sobre ter recebido um "alerta" pelo celular.

O gato roncava recebendo carícias.
- Não entendem a política... Você pode comprar tudo hoje em dia, até mesmo a consciência, disse o político.
Momai percebeu que não havia nada a descobrir.

Afonso Lima


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