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segunda-feira, maio 25, 2020

Ditaduras eleitas, milícias populares, o mercado...

Na nota de apoio a Heleno, os militares [da reserva] dizem estar dispostos a defender o país “com o sacrifício da própria vida” e falam em “guerra civil” como pior hipótese para o desfecho da crise institucional provocada pelos ministros do STF.

https://br.noticias.yahoo.com/grupo-de-militares-defende-heleno-ataca-stf-175018084.html

O sea: los jefes máximos en actividad de las tres Fuerzas Armadas fueron informados del tono golpista de la nota de Augusto Heleno. Y no hicieron nada (sugerir, aconsejar, lo que fuera) para impedir su difusión.
https://www.pagina12.com.ar/267798-brasil-rumbo-al-fondo-del-pozo

O Ministério da Defesa obteve, junto AGU, um aval permitindo que militares (...) possam receber rendimentos acima do teto constitucional, que é de R$ 39 mil.
https://epoca.globo.com/defesa-quer-que-militares-com-cargo-no-governo-possam-ganhar-mais-que-teto-1-24421797

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Talvez estejamos vendo uma nova onda surgir - as ditaduras eleitas da América Latina e do mundo. 

Ditaduras que podem realmente significar quadrilhas e crime organizado no poder, com uma polícia-violência e julgamentos-show. (Uma reunião ministerial como quadrilha pensando num assalto e em como escravizar um povo).

O estado político-criminal pode ser a explosão de negócios obscuros: negócio da fé, negócio das armas, negócio da invasão de terras, jogo, máfias policiais... Para além do sistema de desinvestimento e de defesa do mercado financeiro, a tributação injusta, o sistema financiamento-deputado perfeito da NRA. (Aliás, seu líder repete a fala do "nosso líder", ou o contrário: "o líder da NRA - Associação Nacional de Armas - Wayne LaPierre quebrou o silêncio, defendendo fortemente o direito às armas e atacando as elites que não querem que existam "liberdades individuais" - DN - 22 Fevereiro 2018)

E, como a doutrinação religiosa se mostrou a mais eficaz forma de alienação, voltamos ao fanatismo medieval, agora com um Deus dos ricos e aspirantes à ricos. 

A parcela do capitalismo que se nega a ter limites, se nega a limitar a expropriação, que destrói a educação porque precisa manter o estado de exploração máximo, que cria o mundo pós-verdade como manipulação tecnológica da mente coletiva, a dominação psíquica numa maquiagem democrática.

Generais aposentados no governo falam em "democracia". Basicamente os controles republicanos seriam um ataque à democracia.

O Mercado queria assaltar o bem comum, agora se sente traído até certo ponto, era possível a vitória sem sangue. Congresso/mercado (que recriou a escravidão com o fim das leis trabalhistas) contra Família/Executivo - negócios à vista. 

Lembro de falas do eleito sobre matar 30 mil, quando quase isso já morreu de doença agora - por culpa do abandono, da negação, do desprezo... A frase queria dizer que se precisava de uma guerra civil, algo que limparia o país de esquerdistas, entre eles Fernando Henrique Cardoso, o mais neoliberal dos "centristas"...

A velha teoria da “guerra revolucionária, a paranoia do inimigo comunista, doutrinamento das Forças Armadas que começa em 1961. Depois da lavagem-cerebral imperialista, punidos os soldados nacionalistas, pode-se formar uma aristocracia colonial, que mantém a ordem para a elite rentista-industrial. As dinastias militares positivistas pregando progresso como "ordem". 

A crença de base semeada dá o chão para a notícia falsa que corrobora o padrão. "O Facebook detectou uma empresa israelense que trabalhava espalhando Fake News em processos eleitorais de todo o mundo, inclusive no Brasil... As páginas falsas, empurrando um fluxo constante de notícias políticas, acumularam 2,8 milhões de seguidores." (GGN)

"An Israeli minister met with Roger Stone to provide information that may have benefited the Trump campaign. The discovery implicates Netanyahu in an attempt to distort the 2016 US election result."
(The Real News)

Uma nova força - os autoritarismos regionalistas - usa a propaganda de massa para criar governos militares coloniais, pelo “universo ocidental cristão”. Ocidentalismo que faz parte do grupo "Pravyy Sektor", na Ucrânia, cuja bandeira apareceu em manifestação na Avenida Paulista. Grupos que amedrontam as instituições e bloqueiam protestos. Criou-se uma narrativa sobre uma "filosofia esquerdista"...

Sérgio Moro rasgou a Constituição e os promotores criaram um poder paralelo. Justiça de facção ajudando a expropriação tecnocrática de Guedes e a violência armada do Cavalão. Expulsar o povo do governo como plano das redes de televisão/acionistas e das elites da tropa. O discuso de ódio acabando com o grande pacto nacional para melhoria econômica do PT. É incrível que a "atmosfera do pogrom", de que fala Adorno, tenha surgido primeiro na mídia comercial oligopolizada, vendendo a resposta pronta que libera do esfoço de pensar. Mas o peso do aliado fundamentalista atrapalha a imagem do negócio. ("Jair Bolsonaro's populism is leading Brazil to disaster" - Financial Times).
A arte de romper a democracia até certo ponto...

"Se vocês consultarem o site do Tesouro Nacional vão constatar que o governo tem transferido em juros, essencialmente para bancos e outros aplicadores financeiros, entre R$ 300 e 400 bilhões por ano, dinheiro que precisamente deixou de ir para educação, segurança e o SUS" (Ladislau Dowbor – Além do coronavírus).

"Bolsonaro tem recorrido a manobras protelatórias de todo tipo com a clara intenção de fomentar o caos social e político. Enquanto isso, os bancos privados administram uma verdadeira montanha de dinheiro público, R$ 1,2 trilhão liberados pelo Banco Central (BC) para aumentar a liquidez do sistema bancário." (Portal Vermelho)

"De acordo com o IBGE, 13,8 milhões de pessoas – 6,7% da população – vivem com menos de US$ 1,90 por dia." (Rede Brasil Atual)


A pós-democracia: retira-se do poder quem não amplia o lucro privado. O corte de investimentos (antes e agora) é a morte da educação, portanto, falta de salário, falta de teto, técnica da pouca saúde, uma vida no mínimo, morte estatística na longa curva. Estado de ignorância endêmico - e presidente pandêmico. Da rebelião das corporações - militares, policiais, judiciárias - ao Estado-privado. Do justiceiro seletivo ao ministro "anticrime" punitivista. Da perseguião de inimigos políticos com apoio da imprensa "humanista" à polícia política pessoal da autocracia eleita. Objetificação à ponto de morte significar "economia boa para reeleição".

Da democracia para poucos ao autoritarismo eleito pelo ódio. Duas forças agora dominam com mão de ferro a consciência coletiva do Brasil - o sistema de televisão global (que desumanizou a esquerda) e a propaganda-milícia, aliada da política pentecostal. A opinião pública - base da democracia - foi esmagada pelo monopólio de fala das empresas de comunicação, pela ausência de debate público (literalmente com calúnia de massa e candidatos sem debate) e pelo estelionato eleitoral (compra-se o que não se vendeu) disso resultante.

Roberto Marinho disse que Brizola deveria "fazer umas escolinhas", e não o Ciep. "A falta de segurança para seus jornalistas na saída do Palácio da Alvorada fez o Grupo Globo decidir que seus profissionais não mais farão plantão naquele lugar..." (UOL) A imprensa, rápida em criar polarizações, é destratada; a verdade depende do sistema de reconhecimento.

Democracia de WhatsApp significa também um saber que se consolida em privado, que vem por laços afetivos, forma blocos sem confrontar-se com o todo (e quer colonizar o todo - "Bolsonaro diz que tem imagem ruim no exterior porque mídia internacional é de 'esquerda” - Revista Fórum). Uma perigosa forma de escapar do mundo moderno é isolar-se num saber profético, um intelecto comum sem potência, puro ato já consumado (Agamben). 

"De toda maneira, desde o segundo mandato de Dilma Rousseff começou uma reviravolta, nascendo uma “onda conservadora” que se explica por fatores como fastio com a corrupção petista, preocupação com a economia e maior influência de formadores de opinião conservadores ou antipetistas. Vale destacar, ainda, que o curso do tempo revelou um avanço das pautas anticristãs no governo Dilma, gerando confrontos com a bancada evangélica." (Gospel Prime)

"Essa semana a ex-militante feminista Sara Winter disse que chegou a hora de “ucranizar o Brasil. A situação fica ainda mais preocupante quando lembramos que o pedido de “ucranização”da militante de extrema-direita vem um dia após o filho do presidente postar um enigmático vindo onde apoiadores do presidente atiram à esmo gritando palavras de apoio ao presidente Jair Bolsonaro." (Cleber Lourenço, Revista Fórum)

O conservadorismo latente explode e tentamos rascunhar um mapa. Uma herança de violência, superioridade inegociável (Butler/Fanon) e um pânico moral. O "líder da raça" criado num ambiente artificial (incapaz de "decair no social") ou o excluído glorificado por uma visão revolucionária (o soldado da Primeira Guerra retornando como indigente). A classe média que aceitou ser "superior" e se sente ameaçada pela educação dos excluídos, não quer saber dessa coisa de social.

O eu-fascista é destrutivo porque é incapaz de aprendizado; ele cria a sociedade na qual atingirá um novo status rapidamente. A violência como máscara na precariedade que não pode (e não quer) entender um sistema. O fascista parece ser alguém "ferido", alguém que não pode negociar quando há uma "ameaça à vida", alguém que tem uma "missão" e se sente acima da raça impura, quer fazer parte de uma elite. A arrogância perde o limite da razão comum com o contágio (Freud). O líder fascista acha um alvo irreal para justificar a opressão.

Expropriação em expansão. Qual a diferença entre sistema ditatorial militar e milícia empresarial que ameaça diretamente - e destes com a aprovação de um candidato fascista por cobiça do mercado pelas estatais, saúde e educação privatizadas? 

"O golpe implantou o modelo do 'milagre econômico', que se baseia na concentração de renda, arrocho salarial e muitas horas extras." (Milena Fontes, Revista do Arquivo)

O que teriam em comum aristocracias militares, milícias populares oportunistas, crime organizado politizado?

A repressão à democracia, facções no poder, o Estado como domínio, a censura à preservação da vida com slogans como "defesa da ordem", "luta contra o mal" e preservação da família.

Guerras às drogas (antigas e novas) como forma de controle ("Ação de Witzel poder ter sido para beneficiar milícias" - GGN). Capitalismo da morte que pode perder 7 mil vidas. Capitalismo sem máscara.

Violência xenófoba contra quem quer mudanças, os filhos dos colonizados, dos violentados, os herdeiros da opressão. A mulher negra se torna o mais objetificável dos seres humanos, puro instrumento de prazer sexual, a mãe que perde seus filhos - e também a maior força de resistência. 

Contra o medo fascista, as ameaças fantasma, a tradição reacionária e a ordem autoritária, a indignação justa, a esperança realista e a abertura constante. 

AJr





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