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quarta-feira, outubro 28, 2020

O veneno

O governo tinha um programa especial de migração voluntária, no começo.

Seu pai era policial. Sua função era não deixar que as pessoas negras chegassem nas áreas brancas. 

Alguns animais apareciam caminhando à esmo, pássaros morriam batendo contra os vidros dos altos edifícios.

Não aconteceu no útero, seus neurônios não foram envenenados por sua mãe. Mas enzimas foram afetadas. 

Ela tinha seis anos quando comeu aquilo enquanto sua célula se dividia. 


Desde então, a menina começou perder a visão. 

Por fim, seus ossos se quebraram enquanto subia numa árvore, ela morreu em seguida. 

"Algumas pessoas estão com medo da própria sombra, estão pensando em queimar livros" - disse 

um artista.  


Sua mãe ouvira falar em espíritos que tomam cadáveres e os fazem caminhar. 

Buscou auxílio nas forças infernais.

A mulher atendia vários colegas do seu marido, políticos e homens de negócios, mas nunca haviam ido tão longe. 


Um espírito pediu que o pai trouxesse carne fresca para alimentar os seres sedentos. 

Ela retornou. 

A menina passou a viver no cemitério, onde a mãe ia todas as noites contar-lhe histórias. 

O espírito falou por sua boca e pediu que seu pai se tornasse político. 

- Vamos nos livrar das raças inferiores e cobrir de ouro nossos herdeiros. 

Precisavam de espaço. Animais. 

Eliminariam grande quantidade de pessoas. 

*

Afonso Juior Fereia de Lima

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