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quinta-feira, janeiro 28, 2021

O monstro

A dona de loja no shopping estava atendendo uma senhora porque era horário de almoço da funcionária. Subitamente, parou e ficou imóvel. A cliente a chamou duas vezes, até que ela respondesse. 

O jovem olhava a paisagem diária pela janela do ônibus, o mesmo horizonte dia após dia para chegar no trabalho. Seu colega não o conseguiu acordar quando chegou o ponto e desceu. 

A senhora idosa parou no equipamento de ginástica e o instrutor não a pode mover. Era preciso sair. Os seguranças foram chamados. 

Na escola, ela era chamada de monstro. Seus pais foram chamados.

A dona de loja do shopping parou na pequena faixa de sol que caía do teto de vidro. Tirou os sapatos. 

O jovem deitou na grama do parque depois de sua namorada pedir dois sorvetes ao vendedor. Ele não respondeu mais. 

A senhora idosa ficou sentada ao lado da janela na churrascaria perto do pequeno jardim. Precisavam fechar o restaurante. 

Seus pais foram chamados. Disseram que ele se vestia como menina. 

- Sim, isso é o que ele quer. 

- Mas não podemos evitar que seja hostilizada - disse a diretora. 

A dona de loja do shopping passava o dia todo no jardim de sua casa em pé, sem sapatos, olhando para cima. 

O jovem deitava o dia todo na grama do parque ao lado da fonte de cerâmica árabe. Sua namorada não ligava mais. 

A senhora idosa deitada na cama recebendo a luz do sol. Já não comia. 

- São as árvores, disse a menina na escola. As árvores estão mandando um sonho acordado para transformar as pessoas em coisas verdes. 

Os meninos a cercaram com pedaços de pau. Quando a professorra chegou, já estava morta. 

Afonso Jr. Lima


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