Um exército e uma aurora caminham juntos.
Os Cânticos
- Se hoje fosse antes... - disse o juiz.
O escrivão fez o que pode para me defender.
- Vou contar uma parábola - disse o juiz. Era um planeta cuja atmosfera era verde e animais coloridos circulavam pela terra.
- E? - eu perguntei.
- Você nunca leu a Bíblia? - perguntou o juiz.
Eu tentava lembrar do que havia acontecido. Perguntei:
- O senhor sabe quem foi que me interrogou?
- O mesmo que interrogou o homem dos fornos.
- Os fornos que quebravam todo dia. Demorou a melhorar - disse o promotor.
- Se pelo menos você pudesse ver o quadro maior - disse o juiz.
- O homem que me interrogou sabia algo sobre meu passado?
Parecia lembrar que eles me haviam levado até a máquina. O cheiro me fez desmaiar.
O promotor olhou pela janela, como que pensando não ser fácil acusar o sistema.
- Eu era um escritor!
- Culpado!
- Mas por quê? - perguntei.
- Hoje é quarta-feira.
E já chegara o azul do crepúsculo.
O promotor me disse baixinho enquanto eu saía algemado:
- Logo vem a lua nova.
*
Afonso Jr. Lima
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