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terça-feira, maio 18, 2021

A ameaça

na jaula do teu povo

os teus não sobraram

queima das oliveiras 

exército de comunicação 

sua irmã o viu crescer

horário de entrada na cidade

a escravidão desejada

humilhação da mãe

para prender o pai 

sua irmã sob as pedras

voa do edifício

os teus não sobraram

*

AJR


segunda-feira, maio 17, 2021

A lei dos animais

Tendo chegado de outro lugar, ele não tinha papéis. Seus papéis não eram válidos. 

Agora sabia o que significava ser um animal. 

Animais não podem alugar imóveis, dizia o manual recebido no desembarque. 

As contas de banco estão vetadas a animais. E demais operações com cartão. 

(Para segurança de todos que buscam ganho automático e sem perturbações).

As profissões não serão acessíveis a animais. Não poderá ser chamado "profissional".

(Tinha duas patas, afinal, tinha dentes, sabia cantar: o que o diferenciava de tantos outros domesticados?)

Animais não podem acessar o sistema de saúde. (Ou podem, mas nunca saberão como fazê-lo). 

Animais não têm linguagem. Seus ruídos não são um sistema. 

Animais não estão proibidos de falar em política. Mas, o silêncio evita o juízo. 

Não se recomenda casamentos entre espécies diferentes. 

Apesar disso, animais são bem-vindos e podem trabalhar.

Em caso de parada pela polícia, use a expressão "senhor". As sirenes de polícia sempre procuram animais. 

*

Afonso Jr Lima



sexta-feira, maio 14, 2021

domingo, maio 09, 2021

J. Estripador

 A rainha pisa o tapete dourado colocado no chão da Zona Leste - usa uma capa negra, véu e apenas quatro seguranças para disfarçar-se. 

- Mas o que essas mulheres faziam na rua essa hora?

- Elas estavam trabalhando, majestade - falou o chefe da polícia. 

- Alguma relação com irlandeses ou judeus?

- Não sabemos. Não sabemos nada. Só sabemos que temos inúmeros bordéis e marinheiros.

O duque resolve interromper:

- Majestade, acho que já é o suficiente. 

- Não perguntei sua opinião, Duque Albany. É verdade que receberam cartas?

- Sim. Assina J. Estripador. Achamos que pode ser um açougueiro, médico ou marinheiro que transporta carnes. 

- Que ridículo. Por que um açougueiro mataria cortesãs? 

- Encontramos um avental sujo de sangue e um grafite: "Os Juwes são os homens que querem não ser culpado por nada". 

- Quero o general Jackson no meu gabinete. 

Os homens pareciam nervosos. Ela havia dito que não ia mais permitir ser excluída assim, pois isso lhe impedia de defender o bem comum e "expandir o Império". 

- Fale, doutor. 

O cirurgião policial Thomas Bond respondeu:

- Um homem de hábitos solitários, condição mental vingativa ou taciturna, mania religiosa.

- General Jackson, o senhor sabe que temos um homem assim. Um homem que o senhor promoveu recentemente justamente por ter sangue frio. Fomos criados para achar que essas pessoas são animais. Nossa polícia foi treinada para controlar estrangeiros e miseráveis. Algum deles devem ter saído do controle. Esse bairro deve melhorar. Vamos ocultar os resultados e promover a educação das mulheres. 

Os senhores saíram do gabinete de cabeça baixa. 

Afonso Jr. Lima 

sábado, maio 08, 2021

quinta-feira, maio 06, 2021

viva a pátria

à Fernando Cabrera

*

a última vez em que amou

o beijo no único

em morte pura máquina na rua 


o espelho e amor de sofia

desde outra vida o fundador 

canibal verso inaugural 


do império vem rainha

nunca se cala pisa devagar

eu te chamo dona da canção


a montanha que se sobe 

em rendas de lua e pura altura

a solidão da sombra cecília 


senhor do tempo heroi 

tratado de demolição 

roubando rosas rasgando a pátria 


não segundo a prosa oficial

a duplicação da língua

minha ilha solta e a verdade


gata no teto carne fúria

espuma na boca e faca

da lama sereia a voz 


olhar fúnebre de vertigens 

o morcego observa a cama

pantera em mão sombria 


careta limpo não viu

o profeta vermelha boca 

ia chuva desesperada 


os pés de menino

fantasmas amigos

a casa vazia risos 


procissão das raças 

no latim o quanta e o alho

flor de marfim e mel 


pequeno deus esse medo

esses rostos nosso livro língua

a metafísica da primavera 


passos na calçada desarmar

a criatura sal e ânsia 

o destino de uma brotação 


dentro da casca aquele som

areia violão você entardece

o caminho das águas a noite 


uma só vista

ilumina desde dentro

na minha língua

tudo se compartilha

 

*

Afonso Lima





sábado, maio 01, 2021

Live: Harold Pinter - Arte, Verdade e Política


 

Beckett, Pinter, Foucault - aproximações na paisagem do desmoronamento do eu

II Colóquio Samuel Beckett do GP Estudos sobre Samuel Beckett

Agosto - 2017 
[10:00 – 12:30] MESA 5: Página e palco


- Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin
USP - Cidade Universitária - São Paulo, SP