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quinta-feira, maio 06, 2021

viva a pátria

à Fernando Cabrera

*

a última vez em que amou

o beijo no único

em morte pura máquina na rua 


o espelho e amor de sofia

desde outra vida o fundador 

canibal verso inaugural 


do império vem rainha

nunca se cala pisa devagar

eu te chamo dona da canção


a montanha que se sobe 

em rendas de lua e pura altura

a solidão da sombra cecília 


senhor do tempo heroi 

tratado de demolição 

roubando rosas rasgando a pátria 


não segundo a prosa oficial

a duplicação da língua

minha ilha solta e a verdade


gata no teto carne fúria

espuma na boca e faca

da lama sereia a voz 


olhar fúnebre de vertigens 

o morcego observa a cama

pantera em mão sombria 


careta limpo não viu

o profeta vermelha boca 

ia chuva desesperada 


os pés de menino

fantasmas amigos

a casa vazia risos 


procissão das raças 

no latim o quanta e o alho

flor de marfim e mel 


pequeno deus esse medo

esses rostos nosso livro língua

a metafísica da primavera 


passos na calçada desarmar

a criatura sal e ânsia 

o destino de uma brotação 


dentro da casca aquele som

areia violão você entardece

o caminho das águas a noite 


uma só vista

ilumina desde dentro

na minha língua

tudo se compartilha

 

*

Afonso Lima





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