O Código Ignorado
Ouvi uma história ótima: uma amiga de minha mãe disse que o filho pré-adolescente foi ver o Código da Vinci e, chegando em casa, lhe disse “porque você não contou que Jesus casou com Maria Madalena?” O mais interessante a respeito do livro é justamente o quanto as pessoas estão mal preparadas para lê-lo. Fica-se com a impressão que as hordas de americanos atravessando o oceano para irem procurar pistas em Paris estão aliando a descrença que caiu sobre a instituição da Igreja, a loucura por novidades que os noticiosos criaram e uma grassa ignorância sobre história. Como a Igreja teria escondido que Jesus casou e João era Maria Madalena?
Deve dizer algo sobre nossa democracia-entre-aspas o fato de as pessoas tomarem ficção por realidade. O que me parece mais assustador é que a educação das massas tornou-se uma política antiquada, já que é considerada gasto e não investimento pelos gerentes internacionais.
O fato de Maria Madalena, mulher rica que acompanhou Jesus “com seus bens”, ter se tornado um símbolo, a mesma prostituta arrependida e –até- a adúltera salva do apedrejamento, fica bem no século XI, quando a onda de mosteiros e peregrinações precisava criar túmulos de santos e patronos, mas não no século XXI.
Maria Madalena era simbólica porque representava o pecador arrependido, a fim com a onda de puritanismo que invadia o cristianismo reformador. Hoje ela representa a insatisfação com as instituições, a vontade de buscar um cristianismo menos rigoroso; em parte porque a Igreja tem dado muita ênfase a uma tradição de dogmas em detrimento de uma atuação mais eficaz no mundo. O fato de os bispos franceses lançarem a determinação de que os seguidores do Papa não precisam usar a camisinha, mas os não seguidores devem, mostra que há insatisfação dentro do próprio catolicismo.
Por outro lado, demonstra a vontade que as pessoas demonstram em relação a história, a sua própria identidade. Um mundo em que cada dia temos um produto novo e uma notícia nova, em que o saber se encastelou em universidades, ao povo sobrou a fé e a insegurança. Muito medieval.
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