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sexta-feira, agosto 10, 2007

CRISE AÉREA OU CRISE ÉTICA DA MÍDIA?
A invenção da crise aérea - Marilena Chauí
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"Do ponto de vista da operação midiáticapropriamente dita, é interessante observar que a mídia:

a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesmarelevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com osatrasos de aviões chega a ser comovente...

b) noticiou o acidente da TAM dando explicações comose fossem favas contadas sobre as causas doacontecimento antes que qualquer informação segurapudesse ser transmitida à população. Primeiro, atribuiu o acidente à pista de Congonhas e à Infraero;
depois aos excessos da malha aérea, responsabilizandoa ANAC; em seguida, depois de haver deixado bem marcada a responsabilidade do governo, levantou suspeitas sobreo piloto (novato, desconhecia o AIRBUS, errou navelocidade de pouso, etc.);
passou como gato sobre brasas acerca da responsabilidade da TAM; fez afirmações sobre a extensão da pista principal deCongonhas como insuficiente, deixando de lado, por exemplo, que a de Santos Dumont e Pampulha são menosextensas;

c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o daTAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos,da ANAC e da INFRAERO, levando a população aidentificar fatos diferentes e sem ligação entre si,criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia ea repetição descontextualizada de frases de GuidoMântega, Marta Suplicy e Lula;

d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lheum começo no acidente da GOL, quando se sabe que hámais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula;

e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM,que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes,desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e umdeles em Paris – e não dá para dizer que as condiçõesáreas da França são inadequadas!

A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUSacidentado estava com excesso de combustível por haverenchido os tanques acima do recomendado porque ocombustível é mais barato em Porto Alegre!); etc.

f) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que Congonhas, entre 1986 e1994, só fazia ponte-aérea e, sem mais essa nemaquela, desde 1995 passou a fazer até operações internacionais. Por que será? Que aconteceu a partirde 1995?) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que, desde os anos 1980, aexploração imobiliária (ou o eterno poder dasconstrutoras) verticalizou gigantesca e criminosamente Moema, Indianópolis, Campo Belo e Jabaquara.

Quando Erundina foi prefeita, lembro-me da grande quantidade de edifícios projetados para esses bairros e cuja construção foi proibida ou embargada, mas que subiram aos céus sem problema a partir de 1993. Por que? Qual a responsabilidade da Prefeitura e da Câmara Municipal? "

http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/446501-447000/446655/446655_1.html

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