EM BUSCA DE JUSTIÇA O que é a justiça? Seria a maioria conseguir ser valorizada?
No dia 17 de março, acabou o contrato entre o empresário do Cine Belas Artes e o proprietário do imóvel. As pessoas estavam consternadas. Muitas pessoas. Uma moça chorou ao falar comigo: “Eu participei dos abaixo-assinados, achei que iam nos ouvir. Conheci amigos aqui no Noitão, há mais de quatro anos, isso aqui é muito importante para mim”. “Eu sou aposentado e essa é minha diversão”, outro dizia.
Uma senhora contou que vem ao cinema desde mocinha.
Quando as sessões encerraram e a porta foi fechando, as pessoas não pareciam querer sair, e muitas ficaram perdidas do lado de fora, na calçada. Uma amiga estava decidida a dormir lá. Outro parou junto à bilheteria e parecia não acreditar que teria de cruzar para um outro mundo, sem arte. Vimos muitas outras pessoas chorarem. “Eu também estou a ponto de chorar”, me disse uma jornalista. Sem dúvida a multidão que lotou a “última sessão” – os 82 mil apoiadores do Facebook e os 16 mil que assinaram a lista - é a cidade desejando ser feliz.
Essa situação levanta questões bastante profundas sobre nossa sociedade fragmentada (trabalho intenso, transporte complicado, etc.) – por exemplo, de como é difícil fazer valer a representatividade. Vivemos num mundo onde há pouca comunicação. O bloqueio comunicativo é reflexo da concentração e fragmentação operada depois da Revolução Industrial. Somos solitários, assustados, nervosos – refletir é quase impossível. A arte colabora com a reconfiguração dos signos, como querem Guattari e Deleuze, e as trocas nos ajudam a nos situarmos no mundo, os significados alocados na mente nos ajudam a lançar tentáculos para as novas realidades. O oposto disso é a violência.
Por que deve acabar um espaço cheio de vida, de acesso fácil, de boa qualidade e com opções baratas? O que ele significa em termos de espaço para outros pensamentos e qual a importância da diversidade cultural? A nossa democracia nos representa? O lucro individual é o único valor numa cidade? O interesse público não consegue chegar aos nossos políticos? E, mais importante que tudo – onde estão nossos representantes? As autoridades sabem mesmo o que a população quer?
Seremos atores ou objetos desse mundo de concentração de capital?
Precisamos viver.
Afonso Lima – 18 de março de 2011
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