Já me aposentei há alguns anos. Acostumei-me a uma vida regrada, exercícios, livros, um trabalho voluntário pela manhã uma vez por semana como contador. Recentemente uma mulher jovem se aproximou de mim, uma mulher casada. Nós passeamos algumas vezes juntos, acho que me apaixonei, mas não. Eu queria aproveitar minha liberdade, depois de anos de trabalho duro. Eu não seria sensual como meu pai, cheio de amantes. Eu me dedicava agora a construir meu espírito, havia desvendado algo. Em um famoso conto, J. apresenta alguns garotos que fogem da rigidez da escola jesuítica – Que porcaria é essa de faroeste? Voltem à História Romana! - para sentar sobre a ponte, ver a luz nas árvores, na água, atravessar de barco o canal, observar o descarregar de cargueiros como heroica aventura. O nome: “O encontro”.
Os meninos, pensativos, na colina próximo ao mar, veem se aproximar um velho, com chapéu de feltro e roupa miserável. Ele é misterioso, caminha lentamente até o fim do terreno, volta, senta com eles. Conta sobre o amor. Sobre livros antigos. O amigo corre atrás dos gatos, ele fica sozinho. O velho sai, retorna, fala sobre espancar garotos que perdem seu tempo com meninas. Ele sente medo. Talvez houvesse uma sedução no ar, em um livro posterior ele pensaria em acariciar as nádegas de um jovem. O que me chamou a atenção é que os olhos do velho são “verdes como garrafas”. No início do conto, o menino tenta observar os olhos dos marinheiros noruegueses, ele pensa que noruegueses devem ter olhos verdes. Descobri, num estalo, que o homem deveria ser um deus, já que o pensador trabalha mitos em Dublin posteriormente. Naquela noite eu não dormi. Suava. Por fim caí num sono confuso. Sonhei com um homem com olhos misteriosos que surgia do nada para revelar algo importante.
© Afonso Lima
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