Sozinha no palácio. Não era o Palácio dos mil quartos onde nascera, com jardins que encantaram a Europa, que venceu o cerco turco a Viena, em 1683. As paredes douradas, as cortinas de seda azul, falsos bosques na parede. Os Habsburgo. Imperadores desde 1282. Filha do imperador do Sacro Império Romano-Germânico e de Maria Teresa de Bourbon. Ela era branca, delicada, criada para amores da alma. Agora, o calor, os insetos, a doença que enchia a cidade. Melancolia. Bordar não a consola. Seu consorte a abandonara. Desde o início a chocara essa gente meio bruta, a começar pela sogra ambiciosa, Carlota, cujas filhas sabiam tanto quanto mulheres casadas aos dez anos. Tinha medo da guilhotina com essa revolta chamada “independência”. Nunca mais as árvores cobertas de neve. Onde a poesia, as obras de arte, a música ao piano, os filósofos, uma criadagem decente, as flores, pensava Leopoldina. Seu marido constrangia as empregadas. Ela adoecia na alma. Saturno teria feito seu baço produzir bílis negra? Sorria. Tocava flauta na janela. Nove vezes gerara os filhos dele. Em Viena, estudara botânica e zoologia tropical. De nada serviram os livros. O Imperador, seu marido, bebia, frequentava mulheres, cantava e dançava no palácio ao lado com uma paulista. A cidade zombava dele. Ingleses franceses africanos. Não dorme mais, sua. Isolada dentro do palácio. Ela enfraquece, escreve cartas. Lembra da infância. Ninguém soube dizer qual a causa de sua morte.
© Afonso Lima
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