Ela
entra no ônibus. No fundo, universitários falam de Gramsi e
Durkheim. Não malha, pensam eles, uma bola, pensa a universitária
de olhos verdes. Ela pega às 9h, eles estudam de graça. Ela tem que
sentar ao lado, abaixa a cabeça, liga os fones. Abre seu livro.
Olhares de desprezo. O ônibus para. Uma arma. Os homens estão
loucos, pegam tudo, na cabeça, batem numa mulher, que cai. Minha
deusa, pega aqui, ela deixa cair o livro, eu vou embora. Suor, calor,
ela treme. Querida, faz isso pela gente, fala a estudante de olhos
verdes. Precisamos fazer nossa parte, vamos ficar até quando aqui? -
o jovem alto e malhado. Vem minha deusa, eu libero todo mundo. Você
sabe que quando demora, chega a polícia, e pode ser pior, o loiro de
rasta fala. Se fosse você, teria orgulho de ser a mais gostosa, pra
ele – o futuro filósofo fala. Meia hora, chega a polícia, calor,
choro, desmaios. Só saio daqui depois de gozar. Um líder
comunitário fala do egoísmo que domina a sociedade, do
consumismo-individualismo-capitalismo que aburguesa as relações, do
pobre como reprodutor dos valores burgueses, do moralismo. Ela pega
por dentro da calça, ele responde, as mulheres fecham os olhos, os
homens disfarçam a ereção, cueca molhada, o homem geme, força,
ritmo, mais, grito, trabalho feito. Olhares de desprezo. Eles vão
embora.
- Elas
estão acostumadas, essas gorduchas - diz a universitária ao descer
do ônibus.
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