1 - Ele preferia escalar montanhas na alvorada, para ver o sol nascer e chegar até as aldeias do vale. Ali, com certeza, seu medo com relação ao futuro sombrio que o aguardava - negação total de si mesmo ou a negação do mundo - se abrandava, e podia esquecer a figura opressora e protetora do pai.
2 - Sua mãe, Johanna Schopenhauer vai apontar sempre seu modo de "criticar a tudo e a todos sem perdão". Ele, por sua vez, mais tarde, vai praticamente acusá-la de levar o pai, muito mais velho do que ela e doente, ao suicídio.
3 - As três montanhas que escalou foram: O Cume do Chapeu, em Chamonix; o Monte Pilatus, na Suíça; o Pico da Neve, em Riesengebirge.
4 - Ele primeiro se imagina, depois de matriculado na universidade de Göttingen, dedicando-se às ciências físicas e biológicas, ao "concreto" - os médicos, nessa época, eram também continuadores de Kant e já era um passo além do cálculo pelo lucro e do conforto material como fim do mundo paterno. Para o amigo de sua mãe, o filósofo Wieland, que o advertira sobre o esforço e a solidão quando decidiu finalmente dedicar-se à filosofia, ele respondeu: "A vida é precária, vou refletir sobre ela".
5 - Ele usará esse exemplo mais tarde comparando o imperativo categórico de Kant com a estabilização autoregulada da sociedade burguesa de Adam Smith, ambas utopias.
6 - Essa triste descrição do diário de viagem também reflete sua própria situação em direção à uma vida não desejada. Em Toulon, as pesadas correntes dos condenados, presos dois a dois, que caminham pelo arsenal; os condenados que jamais levantam do seu assento nas galeras que apenas circulam pelo porto - tudo isso despertou nele um horror tremendo, ainda mais quando soube que há seis mil desses infelizes que aguardam a libertação pela morte.
7 - Quando seu pai lhe colocou a escolha incontornável - a viagem ao redor do mundo e depois um aprendizado de comerciante numa firma de negócios ou a matrícula num curso de humanidades para seguir a carreira filosófica que desejava - pode ter despertado no adolescente um desejo de vingança, que se transformaria em culpa, ele continuando a viver como o pai imaginara até anos depois de sua morte.
Afonso Lima
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